Uma reflexão sobre os pais no pós divórcio

O divórcio marca o fim de uma relação conjugal, mas não significar o fim de uma família. Sistemicamente compreendemos que cada decisão e cada conflito ressoam como ondas dentro de um sistema maior: o sistema familiar. Quando os pais transformam a separação num campo de batalha, os mais direta e gravemente afetados são os filhos, criando feridas emocionais que podem prolongar-se por toda a vida.

A relação parental, ao contrário do vínculo conjugal, é para sempre. Significa que, mesmo após a dissolução do casamento, a conexão entre pai, mãe e filho permanece viva e ativa. Quando os pais entram em conflito constante, os filhos tornam-se não apenas espectadores, mas também agentes absorvendo ressentimentos, ansiedades e inseguranças. Importa, assim, cuidar muito generosamente da transformação da relação conjugal na relação parental que perdurará para todo o sempre. Independentemente de tudo, aquele pai e aquela mãe serão sempre as referências maiores dos seus filhos.

A terapia sistémica convida-nos a olhar para estas dinâmicas familiares de forma mais ampla. Ao invés de perguntar “quem está certo?”, podemos refletir sobre “como podemos reconfigurar essa família para minimizar o sofrimento dos filhos?”. O desafio é deslocar o foco do ressentimento entre os pais para a construção de um ambiente seguro, onde os filhos possam continuar a crescer sem carregar o peso da guerra emocional entre aqueles que mais deveriam amá-los e protege-los.

Bem sabemos que a transição de um casamento para uma relação parental colaborativa é desafiadora, mas é essencial e possível. A paz pós-divórcio é uma escolha consciente que exige maturidade emocional, disposição para o diálogo e, acima de tudo, um compromisso com o bem-estar dos filhos. Algumas práticas podem auxiliar nessa jornada:

  1. Separar papéis – O ex-casal pode ter terminado, mas a função de pai e mãe continua. Separar essas identidades ajuda a evitar que os filhos sejam envolvidos em conflitos desnecessários;
  2. Comunicação respeitosa – O tom das interações entre os pais impacta diretamente os filhos. Trocar a competição pelo diálogo respeitoso promove um ambiente de segurança emocional para todos;
  3. Evitar a triangulação – Os filhos não devem ser intermediários nem portadores de mensagens entre os pais. Criar um canal direto de comunicação evita que eles se sintam pressionados a tomar partido;
  4. Cultivar a empatia – Cada membro da família tem a sua própria dor no processo de separação. Reconhecer e respeitar os sentimentos de todos permite uma convivência mais harmoniosa;
  5. Buscar apoio profissional – uma abordagem sistémica do advogado e terapia podem ser ferramentas valiosas para ajudar na reconstrução de uma relação parental funcional e respeitosa.

A transição de um relacionamento que não vingou para uma nova configuração familiar pode ser dolorosa, mas é também uma grande oportunidade de crescimento e amadurecimento. A abordagem sistémica e trasngeracional do direito e da terapia que o Affectum oferece permite aos pais no pós divórcio ressignificarem os seus papéis e construírem uma relação parental equilibrada e respeitosa.

Afinal, desistir do conflito não é fraqueza, mas sim um ato de coragem e amor. Escolher a paz significa oferecer aos filhos um ambiente onde eles possam crescer livres de ressentimentos, aprendendo que o amor pode existir mesmo diante das mudanças que a vida de quem vive plenamente sempre oferece.