Uma Perspetiva Sistémica

“Quando deixamos de tentar controlar a organização como uma máquina, ela começa a evoluir como um organismo vivo.”

Frederic Laloux

Há empresas que florescem por gerações. Outras, mesmo com todos os recursos, parecem carregar um peso invisível, como se algo não deixasse fluir Na perspetiva sistémica, aprendemos que as empresas não são apenas estruturas operacionais, são também organismos vivos com alma, história e lealdades.

E se te dissesse que cada empresa tem um lugar na teia da vida? Que carrega dentro de si os sonhos dos seus fundadores, as suas dores, exclusões e repetições inconscientes? Segundo Bert Hellinger, os mesmos princípios que regem os sistemas familiares, pertencimento, ordem e equilíbrio, atuam também nas organizações. Uma empresa nasce de uma intenção, e muitas vezes, essa intenção é herdeira de uma história pessoal: um pai que nunca foi visto, um avô que interrompeu um sonho, um bisavô emigrante, ou mesmo uma criança que não foi vista. Assim, a empresa pode tornar-se um espaço onde se tenta, conscientemente ou não, resolver algo do passado.

Quando há exclusões de sócios que saíram em conflito, de funcionários desrespeitados, de origens ignoradas, o sistema pede compensação. E essa compensação pode surgir sob a forma de bloqueios, sabotagens internas, rotatividade constante, ou inclusivamente crises financeiras sem causa aparente.

Há uma consciência sistémica, muitas vezes silenciosa, que tudo observa, que zela para que ninguém seja esquecido, para que tudo o que precisa de ser visto venha à luz. Por isso, a história da empresa importa. A forma como começou, quem estava presente, quem foi deixado para trás. Tudo importa porque tudo faz parte.

Pergunto-te: a tua empresa honra as suas raízes? Lembra-se de quem abriu caminho? Dá lugar aos que contribuíram, mesmo que já não estejam? O que está a ser repetido no teu projeto que talvez pertença a uma lealdade invisível?

Quando as pessoas estão no lugar certo, quando as funções são respeitadas e respeitam a hierarquia natural e os valores da empresa estão alinhados com ações coerentes, há força. Uma liderança que respeita os que vieram antes, que reconhece com humildade o contributo de todos, que integra em vez de excluir, é uma liderança fértil.

As empresas precisam de alma para prosperar. E a alma floresce quando há verdade, quando há reconciliação com a história e quando se trabalha com consciência, não apenas com metas.

Uma pergunta essencial da perspetiva sistémica é: a quem serve este projeto? Quando o propósito está enraizado em algo maior do que o ego, quando há serviço, quando há integridade, a vida apoia. É como se o fluxo natural das coisas viesse em auxílio. As oportunidades surgem, as pessoas certas aproximam-se, e as dificuldades transformam-se em aprendizagens.

Fala-se muito hoje em inovação, impacto e sustentabilidade, mas talvez o verdadeiro desafio seja tornar a empresa um lugar com alma. Onde a história é respeitada, os vínculos são cuidados e o propósito é vivido com coerência, tal como nos diz Frederic Laloux, “Quando deixamos de tentar controlar a organização como uma máquina, ela começa a evoluir como um organismo vivo.”

Se a tua empresa fosse uma pessoa, o que te pediria hoje? O que gostaria de curar? A quem gostaria de agradecer? Que capítulo precisa de ser encerrado com honra? Na perspetiva sistémica, sabemos que nada muda de fora para dentro. A mudança começa no reconhecimento, na verdade, na coragem de olhar o que foi e acolher o que é.