“Ninguém pode convencer o outro a mudar. Cada um de nós guarda uma porta da mudança que só pode ser aberta a partir de dentro.”

Virginia Satir

Se te adias porque pensas que a terapia é necessariamente um processo interminável, este artigo é para ti! Mergulhar nas águas profundas é um chamamento para a vida, um convite que não se recusa, por mais que se tente ou se adie. Quando chega o momento de dizer sim à grande viagem do autoconhecimento, é importante saber que o processo terapêutico pode acontecer por partes. Imagina um álbum de fotografias de toda a tua história, com fotos tuas e dos teus antepassados, com imagens reais e imaginárias, com memórias reais e emocionais, fotos de todas as idades, fotos do que sentiste e do que sonhaste, nesse balanço constante entre o verdadeiro e o falso em que vais tecendo a tua história. Escolhe uma, a que agora chama por ti. Para entender quem és o porque és, começa sempre por um pedacinho da tua história, uma imagem de ti ou de alguém que faz parte de ti, por um ponto de vista ou uma repetição de padrão. Porque nada nem ninguém é uma coisa só. É assim que se abrem as pequenas portas das grandes mudanças.

As terapias breves são abordagens terapêuticas com intervenções de curto prazo para resolver questões específicas ou alcançar mudanças em curtos espaços de tempo. Estas terapias têm objetivos específicos, limitam o número de sessões e utilizam técnicas e estratégias orientadas na promoção de mudanças rápidas e eficazes. Existem várias abordagens dentro das terapias breves, como a Terapia Breve Centrada na Solução (TBCS), Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) breve, e a Terapia Estratégica Breve.

Concetualmente as terapias breves remontam a 1950, tendo como pioneiros Milton H. Erickson (pioneiro no uso de técnicas de hipnoterapia e intervenções breves; ficou conhecido pela sua abordagem inovadora e criativa na terapia, utilizando sugestões hipnóticas e técnicas indiretas para promover mudanças rápidas), Gregory Bateson (mais conhecido como antropólogo e teórico de sistemas, Bateson influenciou o campo da terapia breve através de seus trabalhos sobre a teoria da comunicação e cibernética, que foram fundamentais para o desenvolvimento das terapias breves estratégicas e sistêmicas), Jay Haley (trabalhou com Milton Erickson e foi um dos fundadores da Terapia Estratégica; destacou a importância de intervenções diretas e pragmáticas para resolver questões específicos), John Weakland, Paul Watzlawick, e Richard Fisch (todos estes associados ao Mental Research Institute (MRI) em Palo Alto, Califórnia, desenvolveram a Terapia Breve Estratégica; focaram na identificação e interrupção de padrões problemáticos de comportamento através de intervenções específicas e direcionadas).

Como aliadas valiosas neste processo de crescimento individual poderás encontrar, por exemplo:

– A hipnoterapia, uma ferramenta que permite aceder às profundezas do subconsciente, desvendando camadas esquecidas de memórias e emoções. A hipnose não toca apenas superfície, mas mergulha fundo, na possibilidade de uma conexão mais profunda com as partes de nós mesmos que podem ter sido enterradas, sem estarem resolvidas;

– A Terapia Transgeracional permite lançar uma luz sobre as dinâmicas familiares que moldam a nossa existência, explorando as raízes do nosso sistema familiar, descobrindo padrões e lealdades invisíveis que influenciam a nossa maneira de ser. Trata-se de um convite a integrar e compreender o passado, não apenas como um conjunto de eventos isolados, mas como uma tapeçaria entrelaçada que desenha o presente;

– As constelações familiares sistêmicas, uma ferramenta transgeracional poderosa que permite aceder a uma luz incrível, reveladora das inúmeras complexidades das dinâmicas familiares. Ao visualizar as conexões invisíveis entre gerações, permite entender que somos mais do que indivíduos isolados. Somos elos numa corrente que molda a nossa identidade. Este novo olhar é como uma ponte para o passado, conectando-nos às raízes que sustentam nossa existência;

– O coaching, por sua vez, é um farol orientador no caminho da vida; um processo de coaching sistémico não destaca apenas metas e objetivos, mas também faculta as ferramentas para os alcançar.

Destacam-se como pontos comuns destas terapias breves:

– O Foco na Solução, pois concentra a intervenção em encontrar soluções práticas e imediatas para a questão que está a ser trabalhada;

– Objetivos Claros e Específicos: as sessões têm objetivos muito definidas previamente acordados entre o terapeuta e o cliente;

– Tempo Limitado: as terapias breves geralmente têm um número limitado de sessões, que podem variar de algumas semanas a alguns meses, e

– Intervenções Direcionadas, que utilizam técnicas e estratégias específicas para abordar os problemas identificados, promovendo mudanças rápidas e eficazes.

O recurso às terapias breves não é apenas um mergulho no desconhecido, é um ato de autocompaixão. É o reconhecimento de que, por vezes, a transformação não requer um caminho longo e árduo, mas sim tão só um novo olhar, um insight profundo que pode ser acontecer um curto espaço de tempo.

As terapias breves são uma alternativa eficaz e poderosa às tradicionais abordagens terapêuticas, permitindo às pessoas que se exploram passo a passo, obtenham benefícios significativos num período de tempo mais curto. Afinal, ao iluminares pequenas partes de ti, tomas consciência da grandeza que é te tornares cada vez melhor.

Artigo publicado na Revista SIM n.º 296 |  maio 2024