No vale onde o tempo parecia correr com passos lentos, vivia a Alma, uma jovem guardiã de histórias. Cada noite de Ano Novo, ela subia ao alto da Colina das Sombras para observar o céu rasgar-se em estrelas e ouvir os silêncios que precedem a virada.

Aquele ano fora particularmente exigente: sonhos adiados, encontros interrompidos, despedidas que ainda ecoavam no peito. Alma carregava na mochila um punhado de promessas que já tinham perdido brilho.

Ao chegar ao topo, o vento abraçou-a como se reconhecesse a sua fadiga. Sentou-se junto à Pedra dos Começos. Uma rocha firme que segundo diziam, guardava memórias dos passos que ainda não tínhamos ousado dar. Alma abriu a mochila e deixou-a cair ao lado da pedra. Ao fazê-lo, sentiu cada saco de esperança rasgar-se aos poucos, deixando escapar as pequenas luzes das intenções cujo tempo já tinha passado.

– Por onde começar? sussurrou ela, olhando para o vale que se estendia, vasto e desconhecido.

Uma luz tênue brilhou junto à Pedra dos Começos. Não era uma estrela nem uma chama, era um reflexo do próprio coração de Alma. Era a resposta que sempre estivera ali, na simplicidade de estar presente. Sem forças para recriar promessas grandiosas, ela respirou fundo e disse em voz baixa:

– Eu escolho um único passo.

Os ecos dessa afirmação espalharam-se como ondas suaves sobre a relva. O céu estrelado silenciou-se por um momento, e então uma estrela cadente riscou o céu como se comemorasse aquela decisão humilde e profunda.

Ao descer a colina, Alma não levava mais a mochila pesada de intenções inatingíveis. Levava apenas um passo por vez e no peito, a certeza de que esse era sempre o ponto de partida mais verdadeiro.

E assim, o Ano Novo começou no silêncio de um único passo, aquele que não exige perfeição, apenas presença.