“Não consigo explicar o amor que tive por ela. Foi uma coisa que quase me partiu ao meio”
No espaço estreito de um quarto de hospital, duas mulheres partilham o mesmo ar, o mesmo passado, mas não necessariamente a mesma linguagem para o amor. Em O Meu Nome é Lucy Barton, Elizabeth Strout oferece-nos uma narrativa delicada e penetrante sobre a complexa teia que liga mães e filhas: fios de afeto e dor, de ausência e presença, de palavras ditas e silêncios que gritam e marcam vidas.
Lucy, internada durante semanas devido a uma complicação médica, vê a mãe, vinda de surpresa e após muitos anos de ausência, sentar-se ao seu lado. Durante cinco dias elas falam, mas nunca sobre o que dói. Falam de pessoas do passado, de episódios mundanos, de trivialidades, e ainda assim, tudo isso carrega um peso existencial desmedido. O que está em jogo não é o que dizem durante dias de conversa, mas tudo o que não conseguem dizer. Os traumas da infância, os abusos, a pobreza, a negligência emocional e todas as feridas abertas são remetidos ao silêncio. E, ao mesmo tempo, a carência de um amor que, embora invisível, talvez sempre tenha estado lá, mal expresso, mal traduzido, mas sentido.
Strout escreve com uma contenção que comove. Há algo quase cruel na forma como o amor é sugerido, mas nunca afirmado de forma reconfortante. A relação entre Lucy e a mãe não segue os moldes da reconciliação típica. Não há grandes revelações, nem perdões catárticos. O que há é uma presença, cinco dias de presença A mãe veio. Ficou ali, noite após noite. E, às vezes, isso é tudo o que alguém tem para dar.
“Não consigo explicar o amor que tive por ela. Foi uma coisa que quase me partiu ao meio”, confessa Lucy a certa altura. Esta frase é uma ferida aberta e um reconhecimento profundo de amor por quem nos magoou, ou quem não soube amar-nos da forma que precisávamos. Na verdade, uma das experiências humanas mais difíceis e mais reais.
Este livro não oferece respostas fáceis, mas abre espaço para refletirmos: como se constrói ou destrói o vínculo entre mãe e filha? Será o amor algo que se sente, ou algo que precisa ser dito? E quando a palavra falha, quando os gestos falham, como tantas vezes falha nas relações familiares, o que resta?
Neste tempo em que tanto se fala sobre o papel das emoções e da vulnerabilidade, O Meu Nome é Lucy Barton convida-nos a olhar com mais empatia para as relações que nos moldam, sobretudo aquelas que são tudo menos simples. Porque, no final, talvez o amor também esteja nos silêncios, nas tentativas imperfeitas, na presença silenciosa de quem nunca aprendeu a dizer “amo-te”, mas que, ainda assim, foi capaz de se fazer presente. Prova de que a maternidade não é perfeita. É a possível.
Um livro que nos transporta para o coração silencioso da relação entre mãe e filha. Num quarto de hospital, duas mulheres reencontram-se, não para resolver o passado, mas simplesmente para estar.
Durante cinco dias, mãe e filha partilham conversas triviais, memórias de pessoas do passado, e longos silêncios. E é nesses silêncios que mora tudo: o que doeu, o que faltou, o que não foi dito. O amor aqui não grita, não se declara. Ele paira, discreto, imperfeito, e sempre presente.
Quantas vezes sentimos amor sem saber expressá-lo? Quantas vezes esperamos ouvir “amo-te” e recebemos apenas um gesto? Talvez o afeto, especialmente entre mães e filhas, se manifeste também assim, nas tentativas falhadas, na presença silenciosa, nos fios invisíveis que nos ligam, apesar e para além de tudo.
Será que o amor precisa ser dito para ser real? E quando as palavras falham, o que resta?
No mês em que celebramos a Mãe, aqui fica um desafio: olhar para as relações que nos moldam com mais empatia e compaixão, especialmente quando não são fáceis. Porque amar também é isso, algo imperfeito, mas possível.
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