“As empresas são a obra de uma vida, uma obra ao serviço da vida. Nelas atua um movimento que, com o tempo, se torna independente, de modo que elas continuam como se tivessem um princípio vital próprio, independente daqueles que lhes deram vida.” Bert Hellinger

No ambiente empresarial os conflitos internos são inevitáveis e podem comprometer a produtividade, o bem-estar dos colaboradores e a própria sustentabilidade da empresa. Os métodos tradicionais de mediação e negociação são amplamente utilizados, mas nos últimos anos as Constelações Organizacionais têm-se destacado como uma abordagem inovadora para a resolução de conflitos. Tendo por base os princípios que norteiam a Justiça sistémica que aplica as constelações e a terapia transgeracional nos conflitos (jurídicos, relacionais, familiares e outros), este método utiliza uma visão abrangente para identificar e resolver as dinâmicas ocultas que também se verificam dentro das empresas.

Trata-se de um olhar mais amplo sobre as relações que se estabelecem neste sistema a que corresponde a empresa, uma abordagem fenomenológica que procura compreender as interações entre os seus vários elementos e diagnosticar os padrões inconscientes que influenciam os relacionamentos e, por consequência, os conflitos.

No contexto empresarial o sistema inclui não apenas os colaboradores, mas também os sócios, diretores ou administradores, clientes, fornecedores e até elementos intangíveis, como a cultura organizacional e a história da empresa, incluindo os seus fundadores. O que esta compreensão sistémica das relações aporta para o modus operandi empresarial é a possibilidade de revelar os seus desequilíbrios, nomeá-los à luz da filosofia hellingeriana e dos fenómenos transgeracionais, apontando caminhos para restaurar a harmonia, a eficiência operacional e uma produtividade mais consistente.

Aplicando as leis dos amor identificadas por Bert Hellinger ao meio empresarial verificamos que:

– Pela Lei do Pertencimento, todos os indivíduos dentro de uma organização devem sentir-se parte do sistema; excluir colaboradores ou ignorar a sua contribuição pode gerar ressentimento e queda na produtividade; uma empresa que despede funcionários sem transparência ou que negligencia talentos pode sofrer com desequilíbrios e resistências internas;

– Pela Lei da Hierarquia, o respeito à ordem e ao tempo de entrada de cada indivíduo é essencial; quando se ignora essa hierarquia ou se promovem indivíduos sem critérios claros, podem resultar conflitos internos que desestabilizam a estrutura organizacional. No entanto, em sede empresarial, importa considerar a hierarquia relativamente ao tempo e aos objetivos;

– Pela Lei do Equilíbrio as relações dentro da empresa devem ser pautadas pela troca justa e equitativa; colaboradores que sentem que dão mais do que recebem desenvolvem sentimentos de insatisfação e desmotivação, afetando todo o sistema empresarial; assim, as que não reconhecem adequadamente os seus elementos podem sofrer prejuízos significativos estratégicos.

Esta abordagem sistémica e inovadora pode ser implementada de diversas formas dentro das empresas, dependendo sempre daquilo que se pretende alcançar. Por exemplo:

Para a resolução sistémica de conflitos: numa fase que antecede a via judicial, as empresas podem utilizar essa abordagem para identificar as verdadeiras causas dos problemas entre os funcionários, sócios, diretores ou administradores, fornecedores ou qualquer outro elemento;

Para a tomada de decisões estratégicas: esta abordagem pode ser usada para compreender as dinâmicas invisíveis que afetam a performance da empresa, permitindo ajustes mais eficazes;

Para a reestruturação organizacional: as mudanças estruturais podem gerar muita insegurança e resistência; a visão sistémica auxilia na orientação desse processo de forma equilibrada e transparente,

Para a sucessão nas empresas, em especial as familiares, pois na visão sistémica a empresa é entendida como um sistema vivo, onde cada membro ocupa um lugar e desempenha um papel interligado com os demais; desta forma, quando falamos de sucessão, não falamos apenas de transferir uma função ou cargo, mas de reorganizar um sistema inteiro, com toda a sua complexidade;

Para uma gestão preventiva, na medida em que a postura sistémica permite identificar as tensões latentes e atuar antes que os conflitos se tornem processos judiciais ou crises institucionais.

As vantagens desta abordagem são significativas e são muitas, desde a redução dos litígios judiciais e extrajudiciais, a promoção de soluções pacíficas e menos onerosas, o aumento do compromisso dos colaboradores e a melhoria no ambiente organizacional que acontece através da identificação e resolução de padrões disfuncionais, tudo a fomentar o melhoramento das relações interpessoais e um ambiente de trabalho mais harmonioso. De sublinhar ainda o desenvolvimento humano e organizacional que se verifica ao promover a tomada de consciência relativa aos papéis, valores e vínculos presentes na empresa, o que contribui para uma evolução extraordinária da empresa e das pessoas que a compõem.