Dois anos depois o Affectum voltou à conversa com Nuran Evren Sit a propósito da segunda temporada da série Another Self da Netflix (Um Novo Eu), que estreou no passado mês de julho. A criadora do primeiro trabalho cinematográfico que protagonizou as constelações familiares e permitiu que milhões de pessoas em todo o mundo conhecessem esta ferramenta tão extraordinária de expansão da consciência e de evolução, fala-nos hoje do processo criativo, de sincronicidades e do quão todos estamos ligados.

  1. Nuran, foi com imensa alegria que vivemos a contagem decrescente para a estreia da segunda temporada desta série que nasceu de ti, Another Self. Há dois anos atrás falamos depois de termos visto os oito episódios da série, deslumbradas por todas as barreiras racionais que conseguiste ultrapassar com a tua arte, tocando diretamente os corações de milhões de pessoas. Desta vez falámos antes da estreia que se adivinhava um sucesso ainda maior, mas foi importante esperares umas semanas para que agora nos contares do processo de criação e da transformação que tens sentido com o campo que se abriu. Pois bem sabemos que só alguém que atravessa processos internos profundos lhes pode dar voz com tanta mestria.

Querido Affectum,

Obrigado por esta entrevista dois anos depois da primeira. Peço desculpa pelo atraso na resposta, mas foi importante esperar para ver como esta segunda temporada se desenrola e interage com o público.

Escrever a segunda temporada foi uma grande alegria depois de todas as reacções que recebemos da primeira temporada. Foi simultaneamente mais fácil e mais difícil em muitos aspectos. Ao contrário da primeira temporada, eu sabia mais sobre as personagens e o sobre o ambiente. Quando estava a escrever a primeira temporada, tudo era fluído e acontecia dentro na minha mente, mas na segunda temporada pude ver e antecipar todas as cenas no mundo físico. Porque agora sabia como eram as personagens, como soavam e se movimentavam e como seriam os locais. Por isso, concentrava-me mais na história. Havia menos incógnitas para mim, posso dizer. E sabia mais sobre as potencialidades dos actores e os pontos fracos e fortes de toda a história. Por isso, tentei preencher os espaços em branco da primeira temporada para melhorar as personagens a um nível mais profundo, desafiando-as com conflitos que não fossem repetitivos.  E, para ser sincera, a segunda temporada tornou-se a minha favorita quando vi a versão final.

  • Sem qualquer tipo de spoiler, pois o mundo quer ser surpreendido outra vez, conta-nos o que aconteceu nos bastidores desta segunda temporada que foi modificando o curso da história.

Acho que a grande surpresa é o Zaman. Gosto muito da história dele e do efeito que tem na Ada. Tentei quebrar a perceção de que ele era perfeito na primeira temporada. Gosto de ver os contrastes das personagens e quando se encontram e atravessam dilemas.

  • A visão sistémica subjacente às constelações familiares ou, como a designas na série, “expansão da família de origem”, parte do princípio que todos fazemos parte de um sistema ou grupo a que estamos inevitavelmente unidos. Assim, em que medida é que o elenco e todos os demais que fizeram parte desta segunda temporada estão ligados com a própria história? Podes contar-nos algumas das “coincidências” que aconteceram desta vez?

Houve muitas sincronicidades entre os membros da equipa e a história. Tal como Leyla engravidou na primeira temporada, Seda engravidou depois das filmagens e agora tem a sua segunda filha. E a minha viagem ao México depois da primeira temporada teve um impacto enorme em mim quando estava a escrever a segunda temporada. Estava mais consciente e cuidadosa sobre o que estávamos a entregar e a sugerir ao público. E tínhamos um novo membro, o nosso realizador durante 5 episódios, Erdem Tepegöz, que também trouxe muitos conhecimentos da sua própria história pessoal. O avô de Sevgi foi inspirado no que Erdem me disse num almoço que tivemos juntos. E Murat deu-me muitas pistas sobre como Toprak se sentiria e agiria. O querido Aytaç tinha algo em comum com Diyar e tudo isto, conjugado, dá outra alma ao trabalho final.

  • Qual a grande diferença entre a versão final da história que nos vais oferecer e a história que inicialmente imaginaste? Isto pressupondo que a história falou mais alto…

Não creio que haja uma grande diferença. Sinto-me muito honrada e grata pelo facto de a versão final ser uma versão melhorada daquilo que imaginei.

  • Como escritora que acredita que somos como a caixa preta do avião, “que nunca perde os seus dados, independentemente de quantos impactos sofra. O nosso passado é assim. Os sabores, os cheiros, os momentos esperam a hora certa para serem lembrados”, podemos contar com mais sinais de que o futuro é ancestral nesta segunda temporada?  

Sim, claro. Cada personagem é uma continuação de centenas de antepassados, como cada um de nós. Este conceito, por si só, dá-me a motivação para que esta história possa continuar sem ser repetitiva.

  • Nuran, uma palavra para a segunda temporada de Another Self

Ver o passado como ele é não é suficiente para nos melhorarmos a nós próprios. Temos de dar os nossos próprios passos e assumir a responsabilidade das nossas escolhas