Ou o lugar onde habitam todas as emoções
“O ser humano é uma casa de hóspedes.
Cada manhã é uma nova visita.
Uma alegria, uma depressão, uma maldade,
um momento de consciência momentânea aparece
como uma visita inesperada.
Dá-lhes as boas vindas e entretém-nos a todos!
Mesmo que seja uma multidão de mágoas,
que violentamente tomam a tua casa vazia de mobília,
mesmo assim, trata honradamente cada hóspede.
Ele pode estar a limpar-te
para que possas receber uma nova alegria.
O pensamento obscuro, a vergonha, a malícia,
recebe-os à porta rindo,
e convida-os para entrarem.
Sê grato por quem quer que entre,
porque cada um foi enviado,
como um guia do além.”
Cada ser humano é “uma casa de hóspedes”, onde todos os dias alguém bate à porta. A alegria, a tristeza, a raiva, o entusiasmo, o medo, a surpresa, a nostalgia. Cada emoção chega sem pedir licença. Umas instalam-se como luz que entra pela janela, outras invadem-nos como um hóspede inusitado que derruba móveis e levanta pó antigo.
A verdade é que, gostemos ou não, tudo o que surge vem com um propósito. Rumi lembra-nos: “Acolhe cada hóspede com gratidão. Mesmo que seja um bando de tristezas… Ele pode estar a limpar-te para a chegada de um novo prazer.”
No Affectum, isto não é só poesia, é prática diária. É o trabalho silencioso de quem decide olhar para dentro em vez de fugir. É a coragem de não expulsar a dor à pressa, de não esconder a ansiedade atrás de agendas cheias, de não maquilhar a confusão com frases feitas. É aprender a reconhecer que a emoção que hoje incomoda pode ser a mesma que amanhã liberta.
Acolher o que dó não é resignação. É dar espaço, dar nome, e dar lugar para que nada dentro de nós precise de gritar para ser ouvido. Porque quando uma emoção chega, traz uma mensagem. E quando parte, deixa uma mudança. E quando volta, raramente é a mesma.
Rumi sabia disto há séculos. Hoje seguimos o mesmo caminho de respeito pela casa que nos habita, permitindo o fluxo, honrando cada visita. Porque é assim que nos expandimos, tornando-nos inteiros, e mais humanos.
Este é o convite: quando baterem à porta, abre. Vê quem é. Escuta.
E depois decide o que fazer, sem violência, sem negação, sem pressa. Tudo para transformar a vida num espaço onde até as dores sabem que podem entrar para depois sair.
Rumi convida-nos a abrir espaço interior. Nós convidamos-te a respirar fundo e perguntar: Que hóspede está hoje à tua porta? E o que ele precisa que tu saibas?
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