“A nossa inconsciência não é para os nossos filhos herdarem; é para investigarmos. Ser um pai, ou mãe, consciente significa que estás cada vez mais atento à força e prevalência da tua inconsciência conforme ela vai surgindo nas situações do dia a dia.

Filhos criados por pais conscientes e, portanto, em paz com eles mesmos e conectados com a sua alegria interior descobrem a abundância do universo e aprendem a explorar essa fonte sempre fluindo. (…)

Essa alegria é capaz de impregnar a alma com uma sensação de autonomia. Jogos de poder e controle não têm lugar, substituídos por uma experiência de unidade com tudo, de modo que a vida flui com poder curativo por várias gerações no futuro.”

Shefali Tsabary, In “Pais e mães conscientes”

A alienação parental é um fenômeno profundamente doloroso que afeta tanto a criança quanto a estrutura familiar como um todo, o sistema. Quando um dos pais, de forma consciente ou inconsciente, influencia negativamente a perceção do filho sobre o outro progenitor, cria-se uma dinâmica destrutiva que pode ter consequências emocionais e psicológicas graves e duradouras. Nos processos judiciais, abordar a alienação parental sob a perspetiva sistémica pode trazer uma luz para a solução desse problema de forma pacífica, e o ponto de partida será sempre reconhecer que este conflito é entre pai e mãe, e todas as histórias que ambos carregam.

A abordagem sistémica reconhece que as relações familiares estão interligadas por um conjunto de dinâmicas complexas, que se perpetuam através das gerações. A alienação parental surge frequentemente associada à história dos pais da criança que é alienada, bastando um deles carregar em si ressentimentos, traumas ou feridas não resolvidas, que o fará projetar sobre a criança uma dor que pode não ser só sua. Ao olharmos sistemicamente para essa questão afigura-se possível revelar os padrões invisíveis que estão por detrás desta dinâmica familiar que é a alienação e trabalhar o processo no sentido de ser restaurado o equilíbrio do sistema familiar.

Dentro da abordagem sistémica destes processos que tanto assolam os tribunais portugueses, as constelações sistémicas familiares mostram-se uma ferramenta essencial na medida em que possibilitam observar as dinâmicas ocultas que perpetuam a alienação parental. Constelando em grupo um processo desta natureza, os representantes são escolhidos para simbolizar os membros da família e, através de sua interação, os padrões familiares emergem no campo de forma clara e cada um passa a ocupar o devido lugar no sistema, possibilitando uma compreensão mais abrangente do conflito existente e a restauração do equilíbrio entre todos.

Um dos princípios fundamentais da abordagem sistêmica é a inclusão. Quando um dos pais é excluído da vida da criança, o sistema familiar entra em desequilíbrio, muitas vezes gerando resistências e conflitos internos. O reconhecimento e a reintegração desse progenitor no sistema é essencial para a saúde emocional da criança e para a prevenção de padrões destrutivos que podem se repetir ao longo da vida.

A alienação parental não deve ser vista apenas como um problema individual, mas como um jogo de poder entre pai e mãe que está preso a lealdades invisíveis dentro do sistema familiar. Em muitos casos, a criança sente que deve escolher um lado para manter a harmonia dentro do sistema, o que gera dor e sofrimento. Com a abordagem sistêmica, é possível criar espaço para que todos os envolvidos sejam vistos e reconhecidos, permitindo uma transformação real nas relações.

A alienação parental deixa marcas profundas, mas não irreversíveis. Quando abordamos essa questão com um olhar sistêmico, abrimos espaço para a empatia, a compaixão e a possibilidade de reconstrução dos vínculos familiares. O verdadeiro objetivo não é apontar culpados, mas sim encontrar caminhos para a cura e para a reconexão.

Nos tribunais, a abordagem tradicional tende a tratar a alienação parental como um conflito isolado entre duas partes, ignorando as dinâmicas emocionais e transgeracionais que norteiam a vida dos pais. No entanto, ao integrar a justiça sistêmica nos processos judiciais, é possível promover soluções mais eficazes e humanas e respeitar sempre o superior interesse da criança.

Ao aplicarmos a justiça sistêmica nos processos judiciais que envolvem alienação parental, damos um passo importante na direção de uma justiça mais humanizada, que considera não apenas os direitos legais, mas também as necessidades emocionais de todos os envolvidos. Dessa forma, a consciência sistémica permite transformar uma realidade de dor e separação num caminho de cura e reconciliação, onde o bem-estar das crianças seja verdadeiramente priorizado. Este é deveras o caminho para a construção de uma sociedade com relações familiares mais saudáveis e equilibradas, promovendo um futuro onde as crianças possam crescer livres de conflitos e rodeadas pelo amor e pela segurança de que tanto necessitam.

Só pais conscientes têm filhos felizes e livres!