“Toda a vida é encontro.”

Martin Buber

Há algo de profundamente humano na forma como nos olhamos e como somos olhados. A nossa história, as nossas feridas e as nossas luzes revelam-se sempre em relação. Mesmo quando acreditamos estar sozinhos, há sempre um diálogo interior em curso que nos coloca entre o que fomos e o que estamos a ser, entre o que desejamos e o que tememos.

A relação com o Eu é o ponto de partida de todas as outras relações. É nela que aprendemos a reconhecer as necessidades, os limites e vulnerabilidades. É nela que descobrimos o nosso valor. Não aquele que vem do fazer ou do agradar, mas o que brota do simples facto de existir. De ser, simplesmente.

Somos muitos os que cresceram a olhar para fora à procura de validação, amor ou aprovação. Procuramos no outro o reflexo que nos confirma, e quando esse reflexo se quebra, sentimo-nos perdidos. Daí ser o verdadeiro desafio “habitar o próprio centro”, construir uma relação íntima e honesta connosco. E isso implica escutar o que habitualmente silenciamos, como o medo, a raiva, a tristeza, o vazio. Não para nos fixarmos na dor, mas para integrar o que foi esquecido. Só assim poderemos encontrar o Eu que observa, o Eu que acolhe, o Eu que é inteiro, mesmo na imperfeição.

Cada encontro humano é um espelho. O outro mostra-nos o que ainda não conseguimos ver em nós. Nas relações, somos desafiados a reconhecer as sombras, os padrões, as repetições inconscientes que herdámos da família de origem. O outro, sem saber, toca nas feridas que pedem atenção e, ao mesmo tempo, oferece a oportunidade de as curar.

Por isso as relações, quando vividas com consciência, são verdadeiros lugares de crescimento mútuo e de revelação. Através delas aprendemos sobre empatia, sobre os limites entre o Eu e o nós, e sobre a arte de permanecer inteiro mesmo quando amamos profundamente. Quiçá especialmente quando amamos profundamente.

Entre o Eu e o tu existe um espaço sagrado. O espaço da relação viva, onde nenhum dos dois se anula, e onde o encontro se torna fonte de sentido. É nesse espaço que deixamos de ver o outro como projeção das nossas faltas ou idealizações, e passamos a vê-lo como um ser único, igualmente em caminho.

Cuidar da relação com o outro exige cuidar da relação contigo próprio. Só quem se escuta pode verdadeiramente escutar. Só quem se aceita pode verdadeiramente amar. E é nessa reciprocidade que a vida ganha profundidade, beleza e verdade.

No Affectum, acreditamos que as relações com o Eu, com o outro e com o todo são o território onde a alma amadurece. Cada crise, cada afastamento, cada reencontro é um convite a um pouco mais de consciência, mais autenticidade, e mais amor. A terapia, seja individual ou de casal, oferece precisamente esse espaço para olhar corajosamente para dentro, compreendendo as dinâmicas invisíveis e assim abrir-se à possibilidade de um novo início.

Porque no fundo, tudo começa e termina na relação com o Eu, com o outro e com a Vida.