Entre o Medo de Perder e a Alegria de Escolher
Vivemos uma era saturada. Saturada de informação, de possibilidades, de vidas aparentemente perfeitas desfilando num ecrã. Todos os dias, somos convidados, ou mesmo empurrados, para mil experiências, eventos, caminhos. A sensação é clara: se não estou em tudo, estou a perder tudo.
Chama-se a isso FOMO (Fear of Missing Out). O medo de estar de fora.
Mas o que acontece quando paramos de tentar pertencer a tudo, e escolhemos pertencer a nós mesmos?
Chama-se a isso JOMO (Joy of Missing Out).
E essa escolha, longe de ser uma fuga, pode ser a maior revolução interior do nosso tempo.
FOMO não é apenas um fenómeno moderno.
É a manifestação emocional de uma ferida antiga: a desconexão de si.
É a parte em nós que teme o silêncio porque nele pode ouvir o que realmente sente.
É o desconforto com a pausa, porque ela revela a ausência de presença.
Por trás do medo de perder experiências, está o medo de confrontar o vazio interno, aquele espaço onde, se nos atrevêssemos a entrar, descobriríamos talvez o essencial que esquecemos: nós próprios.
FOMO aparece quando o nosso centro está fora de nós.
Quando esperamos que a validação venha de fora.
Quando a vida se torna um esforço constante de acompanhar o mundo, em vez de o habitar com verdade.
Daí que JOMO surge como a alegria radical de não estar onde não se está inteiro
Porque JOMO não é desinteresse. Não é indiferença. Não é fechar-se à vida.
JOMO é a coragem espiritual de escolher menos e de viver mais.
É olhar para tudo o que poderias fazer, ser, alcançar… e dizer com serenidade:
“Hoje, escolho estar aqui. Neste corpo. Neste momento. Nesta verdade.”
JOMO é um ato de soberania interna.
É quando deixamos de medir o valor da nossa vida pelo que fazemos, e começamos a medi-lo pela inteireza com que o fazemos.
É um tipo de liberdade que não grita, mas sorri em silêncio.
JOMO é revolução. Num mundo que te grita “Mais! Corre! Vai!”,
JOMO sussurra: “Fica. Sente. Respira.”
JOMO é um gesto de resistência amorosa.
É dizer “não” ao excesso para dizer “sim” ao essencial.
É deixar de correr atrás da vida, para começar a dançá-la desde dentro.
A verdadeira revolução espiritual hoje pode não ser alcançar grandes alturas, mas descer profundamente ao teu lugar.
Esse lugar onde não precisas de provar nada. Onde não estás a perder nada.
Porque tudo o que precisas já está contigo, dentro, vivo, presente.
Vieste para estar inteiro num só lugar de cada vez.
Para curar o FOMO, não precisamos de nos afastar do mundo, mas sim de regressar a nós mesmos.
A pergunta não é “o que estou a perder lá fora?”, mas sim:
“O que estou a evitar sentir cá dentro?”
Respira.
Fecha os olhos.
Repara: o corpo está sempre aqui.
O corpo não sofre de FOMO. Ele sabe. Ele sente. Ele é.
Ao sentires os pés no chão, o ar nos pulmões, o sangue a pulsar nas veias, entras no único lugar onde nada está a faltar. O agora.
A comparação dissolve-se quando te tornas íntimo do teu próprio ritmo. A ansiedade suaviza quando deixas de medir a tua vida pela régua dos outros.
Talvez o grande privilégio seja a escolha de não estar em todo o lado, a permissão para não estar, confiando que aquilo que é verdadeiramente teu, te encontrará.
Ausentar-se de certos espaços, escolhas ou caminhos não é perder.
Porque JOMO é honrar o teu compasso interno.
É criar espaço para o sagrado emergir.
A gratidão silenciosa de saber que a vida não acontece só lá fora, ela vibra dentro de ti, a cada instante em que estás presente.
Que este texto te encontre não onde querias estar, mas exatamente onde estás. Porque é aí que começa o verdadeiro encontro.
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