“A CURA POR UMA SALA DE AULAS MODERNA”

Um documentário sobre educar para além das notas, e

aprender para além das paredes

Há escolas que parecem fábricas. Corredores longos, campainhas que ditam o tempo, filas de carteiras onde todos devem aprender da mesma forma e ao mesmo ritmo. Ensina-se muito, mas aprende-se pouco. Porque aprender e despertar vida, e não um mero acumular informação.

É desta urgente e necessária transformação na sala de aulas que trata o documentário “A Cura por uma Sala de Aulas Moderna”, disponível na RTP Play, que acompanha três jovens que não cabiam no molde escolar tradicional: um artista em busca de expressão, um aventureiro que não se deixava aprisionar pelas regras, e um aluno em luta com a sua autoestima. O que acontece quando lhes damos espaço para criar, errar e pertencer? O brilho regressa ao olhar.

A ciência já confirma o que a intuição nos diz: a motivação intrínseca é o maior motor da aprendizagem (Deci & Ryan, Teoria da Autodeterminação). O cérebro aprende melhor quando existe curiosidade, emoção e sentido (Damásio). E, no entanto, continuamos a medir o valor de um aluno apenas pelo que decora para um exame.

A escola é o reflexo da sociedade que a cria. Se educamos para a repetição e para o controlo, formamos adultos conformados. Se educamos para a criatividade e para a empatia, cultivamos cidadãos capazes de transformar o mundo. Mas a sala de aulas de que fala o documentário é também uma metáfora, pois refere-se a um espaço interior onde cada um se autoriza a aprender sem medo, a errar sem culpa, a descobrir quem é, indo além de diferentes paredes e de métodos inovadores.

Carl Gustav Jung lembrava-nos que a verdadeira educação é um processo de individuação.  Tornar-se aquilo que se é em essência, integrando luz e sombra, consciente e inconsciente. Uma escola viva deveria ser, então, o lugar onde esse processo encontra alimento, onde cada jovem se aproxima do seu Self e descobre a sua vocação interior.

Também Bert Hellinger nos ensina que a vida flui quando ocupamos o nosso lugar e honramos as nossas raízes. Muitos alunos não sofrem apenas por falta de método, mas porque carregam histórias invisíveis, dores herdadas, lealdades familiares inconscientes. Uma educação que ignore estas forças sistémicas arrisca-se a ensinar conteúdos, mas a deixar feridas abertas.

Neste sentido, a cura nasce quando a sala de aula se transforma num lugar de pertença. Onde existem vínculos, para lá das disciplinas. Onde se aprende matemática e respeito. Onde se lê literatura e se cultiva a empatia. Uma escola assim transmite muito mais do que conhecimento. Transmite vida e vontade de ir mais longe, ao encontro de um propósito.

Será difícil mudar todo o sistema de um dia para o outro, bem sabemos. Mas toda a mudança se inicia com gestos simples: escutar mais, valorizar perguntas, respeitar ritmos e aceitar cada um na sua singularidade. Porque é possível uma escola onde cada um seja diferente de todos, lembrando que a diversidade nunca será um obstáculo, mas sim riqueza.

A neurociência, a psicologia e a pedagogia contemporânea convergem numa mesma direção, defendendo que se aprende melhor quando nos sentimos seguros, reconhecidos e inspirados. O documentário mostra-nos isso com imagens vivas, e a ciência confirma-o com dados. Por isso a construção de uma sala de aulas moderna é tarefa de todos, professores, pais, alunos e comunidades. E é também uma tarefa interior, onde cada um pode abrir dentro de si esse espaço onde aprender volta a ser sinónimo de viver.

E tu, que memórias guardas da tua escola? Que feridas ainda ecoam e que dons despertaram em ti? Se pudesses redesenhar a educação, que sementes plantarias? Partilha connosco a tua visão. Porque cada palavra, cada gesto e cada experiência podem ser a semente de uma nova forma de aprender, mais humana, mais livre e, verdadeiramente mais curadora.

DOCUMENTARIO “A Cura: por uma Sala de Aulas Moderna”,