“Em toda a vida, teve um único desempenho: ser pai. E todo o bom pai enfrenta a mesma tentação: guardar para si os filhos, fora do mundo, longe do tempo.” Mia Couto, in Terra Sonâmbula
Ser pai é mais do que uma simples condição biológica. É uma condição transcendental que ecoa através do tempo, molda identidades e deixa uma marca incontornável nas gerações futuras.
O mundo contemporâneo apresenta uma série de desafios complexos a este Ser Pai, desde reconhecer o seu lugar na vida familiar, até desafiar estereótipos de gênero e arquétipos que estão no inconsciente coletivo, para encontrar um novo lugar na vida dos filhos.
O movimento em direção à igualdade de gênero tem desempenhado um papel fundamental na redefinição do masculino e da paternidade. Os homens são incentivados a participar ativamente na promoção de ambientes igualitários em todas as esferas da vida, incluindo trabalho, família e relacionamentos, e a vivencia da paternidade transcende a ideia de provedor único, de homem disciplinador e autoritário.
Pais modernos desafiam as expectativas tradicionais, assumindo papéis mais ativos na criação dos filhos, demonstrando sensibilidade emocional e partilhando as atividades do dia a dia. A paternidade, agora mais do que nunca, é uma jornada partilhada, uma colaboração ativa que fará a diferença na construção das futuras gerações.
Contudo, não podemos ignorar que as complexidades persistem. Questões não resolvidas, dinâmicas familiares disfuncionais e a pressão cultural continuam a desafiar a expressão plena do papel do pai.
Existe no homem de hoje um debate interno entre a paternidade que tiveram, com a visão da paternidade que desejam criar. A tentativa de negar o passado pode ser uma resposta inicial, mas a verdadeira transformação surge quando se integra e honra a história paterna para, então, traçar um caminho diferente.
Bert Hellinger, renomado psicoterapeuta e criador das Constelações Familiares, oferece insights profundos sobre as dinâmicas familiares e a importância do pai no sistema familiar. Hellinger diz que para Ser Pai, é crucial
não apenas olhar para o futuro, mas também para o passado, compreender as raízes que sustentam a árvore genealógica e honrar todos os que chegaram antes.
Honrar o pai, neste contexto, transcende a mera formalidade. É um processo interno no nosso caminho de desenvolvimento e crescimento, que envolve um profundo reconhecimento e gratidão, pelo masculino que nos deu a vida.
É desvendar as camadas invisíveis da influência paterna, permitindo explorar as raízes profundas da paternidade.
É um caminho de amor e aceitação, que permite reconhecer não apenas o que correu bem ou as conquistas visíveis, mas também o que correu menos bem, como as dores, as histórias não contadas e os segredos, que moldaram todo o caminho. Cada pai carrega consigo uma herança emocional, que se entrelaça numa tapeçaria única de experiências que influenciam, não apenas a sua vida, mas também as das gerações futuras.
Honrar pai é abraçar o autoconhecimento e o desenvolvimento interior, na busca por aceitar as forças invisíveis que moldaram a própria existência. Ao desvendar as lealdades inconscientes, rompem-se padrões repetitivos, o que permitirá uma expressão autêntica da paternidade, livre das sombras do passado.
É uma celebração da complexidade humana, uma compreensão de que, nas imperfeições, encontramos a riqueza da experiência.
Ao escolhermos este olhar escolhemos desvendar os enigmas do nosso próprio caminho, tornando possível também cultivarmos um novo espaço para relações autênticas, enraizadas na aceitação mútua e na busca contínua da compreensão e do amor.
E é assim que Ser Pai se transforma num caminho de integração, que permite equilibrar as dualidades do arquétipo paterno e enfrentar todas as sombras que o acompanham.
E é assim que se abre espaço para uma paternidade autêntica, marcada pela consciência, compreensão e, acima de tudo, pela liberdade de Ser verdadeiramente Pai.
Feliz Dia do Pai!
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