Sendo mais compreensivos connosco e aceitando-nos mais, também podemos ser mais tolerantes e amáveis com os outros.
Honrando as limitações de nossa própria imperfeição humana, podemos suportar o erro dos outros.
Kristin Neff, Autocompaixão
Quem Sou eu? A grande questão que acompanha o homem ao longo de toda a criação apresenta-se hoje como um convite urgente à descoberta de nós nesta era em que Ser Feliz é o maior propósito da existência.
E para ser feliz importa entender o que sentimos e porque sentimos, o que pressupõe um caminho de autodescoberta que nos coloca perante duas grandes questões: Quem sou eu para mim? Quem sou eu para o outro?
Quando nascemos passamos a fazer parte de um ambiente e logo começamos a viver influências da educação, da cultura, da família e do local onde nascemos. Tudo isto nos molda e esconde aquilo que verdadeiramente somos, que se vai dissipando gradualmente no processo de crescimento sobrepondo-se ao nosso verdadeiro Eu, tanta é a necessidade de fazermos parte e de sermos aceites. E assim, a dada altura, tudo o que os nossos pais querem ou queriam que fossemos se sobrepõe ao sonho daquilo que desejaríamos ter sido, e perdemo-nos entre aquilo que julgamos ser, aquilo que queremos ser, aquilo que temos de ser e aquilo que não queremos ser, numa luta constante que desencadeia traços comportamentais que tendem a consolidar-se, definindo a nossa personalidade,
É precisamente aqui que o eneagrama se revela como uma ferramenta singular para mapear a personalidade do ser humano, trazendo consciência dos padrões de comportamento, construtivos e destrutivos, ao mesmo tempo que oferece alternativas para que a pessoa se desenvolva pelo autoconhecimento.
O eneagrama é, assim, um mapa de autoconhecimento utilizado desde a antiguidade, que apresenta 9 tipos de personalidade. Não se conhece em rigor a origem o eneagrama, sendo que alguns historiadores encontram referências ao seu símbolo no ano de 2.500 a.c..
Sabemos ainda que o diagrama utilizado por esta ferramenta foi introduzido por Pitágoras (composto por um círculo, um triângulo equilátero e um hexade) na sua Escola de Desenvolvimento Interior, através do qual apoiava cada aluno no seu processo de autodescoberta, permitindo-lhes vencer as paixões, dominar o corpo, a mente e as emoções, e desta forma viver a essência em harmonia com o universo, o que era possível através da interiorização das suas virtudes.
O eneagrama é usado em todo o mundo como uma das mais poderosas ferramentas de desenvolvimento pessoal e organizacional, precisamente porque analisa o indivíduo numa espiral evolutiva em que a expansão da consciência do Eu assenta no conhecimento da nossa essência, do que nos move e nos prende.
Quando nos identificamos com um dos 9 tipos de personalidade do eneagrama, reconhecemo-nos, recordamos quem somos e abrimos caminho para uma maior aceitação de nós, mas também do outro.
Atualmente, a cada um dos 9 tipos do eneagrama corresponde um número e um nome que em certa medida traduz a tendência dominante de cada eneatipo. Vejamos:
1 – perfeccionista/juiz,
2 – altruísta/ajudante,
3 – Ator/narcisista,
4 – romântico/artista,
5 – observador/espectador,
6 – cético/leal
7 – epicúrio/oportunista,
8 – Protetor/poderoso,
9 – mediador/pacificador.
Com terminologias ainda da antiguidade muito marcadas pela divisão dicotómica do bem e do mal, a cada tipo é atribuída uma paixão (um “defeito” associado aos pecados capitais) e uma virtude (qualidade), que se podem esquematizar da seguinte forma:
1 – cólera/serenidade,
2 – orgulho/humildade,
3 – mentira/verdade,
4 – cobiça/equanimidade,
5 – avareza/desprendimento,
6 – medo/coragem,
7 – gula/sobriedade,
8 – desregramento/inocência,
9 – preguiça/ação justa.
Aplicada no sistema familiar, o enagrama é uma ferramenta muito poderosa, pois permite que cada um se olhe e olhe o outro com olhos de amor, entendimento e compreensão, reconhecendo as suas diferenças e complementaridades. Quando integramos conteúdos inconscientes do nosso Eu, aprendemos a olhar para nós mesmos e para os outros sem julgamento e com maior aceitação.
O eneagrama é, assim, o ponto de partida para vivermos relacionamentos equilibrados e prazerosos, que nos acrescentem e permitam realizar o nosso propósito, vivendo de acordo com os desígnios da nossa alma.
Artigo publicado na Revista SIM n.º 272 | JULHO 2022
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