“A alegria é a coisa mais séria da vida.”

Almada Negreiros

Podemos aprender a ser felizes? Sim, podemos! Tal Ben-Shahar, o professor responsável por um dos cursos mais populares da Universidade de Harvard sobre Felicidade e Psicologia Positiva, afirma que a felicidade é uma competência que pode ser aprendida e que está ao alcance de todos. O professor fala da potência do encontro, pois é na relação com o outro que está a fonte primordial de felicidade e de saúde. O professor desafia-nos a olhar os relacionamentos como o grande palco de crescimento do ser humano, estando na relação com o outro a grande oportunidade de encontro. Encontro com as sombras, com a verdade, encontro com as vulnerabilidades, com a força, com a nossa história, com os medos e também com a luz.

Cultivar os relacionamentos passa, assim, pela escolha que fazemos a cada instante de nos darmos e escutarmos com gentileza, quer pessoal, quer profissionalmente. O efeito multiplicador está comprovado. Um pai ou um líder capaz de estimular um ambiente em que cada um se sinta seguro, capaz de fazer perguntas e aportar valor sem medo, assumindo a sua voz, tornará a sua família ou empresa mais saudável, sustentável e feliz.

O mundo mostra-nos que a felicidade não se conjuga com o verbo ter, mas sim com o ser. Na satisfação dos desejos imediatos e fugazes, bem como na prorrogação infinita do prazer, cumprimos uma existência que se desvanece com o próprio tempo que passa. Só quando o amor invade o que temos e o que fazemos, atribuindo significado às coisas mais simples e complexas da vida, ao que é fácil e aos grandes desafios, poderemos viver “ao nível do inesquecível”.

E é isto, quando a felicidade nos define basta estar presente e dizer sim à vida para sermos capazes de sentir o amor nas suas infinitas manifestações ordinárias e diárias, e, assim, sermos capazes de ouvir o vento, como diz Fernando Pessoa. “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido”.

É certo que a vida tem altos e baixos, dias bons e menos bons, mas todos eles fazem parte, e é precisamente na forma como os olhamos que definimos o caminho e a felicidade que sentimos. Se encararmos a vida como um lugar de espanto onde tudo pode acontecer, seguramente seremos mais felizes e guardaremos na memória do coração aquilo que nos é essencial. Um café com um velho amigo, uma noite a solo ao luar, um “bom dia” para o nosso reflexo no espelho quando lavamos os dentes, uma despedida, os cheiros e sabores da infância, uma ida ao supermercado, aprender algo novo, fazer um caminho diferente para casa, tudo isto pode ser felicidade para quem escolhe (e consegue) estar inteiro na vida que passa.

Sentir que pertencemos na interação e na inclusão com os demais é também fundamental para vivermos sentindo-nos na nossa própria pele. Pertencemos a uma sociedade, a um país, a uma família, a um grupo de amigos, a uma organização, e é nesta pertença que nos realizamos e somamos uns aos outros.

É extraordinário o quanto o outro nos pode acrescentar, e vice-versa. Quando damos e recebemos, nesta dança de quem acredita na potência do encontro, para além de contribuir para que os outros sejam mais felizes, estamos acima de tudo a nutrir a nossa própria felicidade, sem esperar nada em troca.

É neste equilíbrio entre dar e receber que criamos raízes nas relações com significado, onde o fluxo do amor expande a sensação de felicidade.

Quando percebemos que a felicidade é uma escolha que só depende de nós, a perguntaSou Feliz?” dá lugar a outra que nos permite assumir total responsabilidade sobre a nossa vida: “Como posso ser mais feliz?”

O convite é viver de forma mais leve, sem condicionamentos e aflições, confiando no invisível, no que não sabemos e não conhecemos ainda, reconhecendo o corpo e a natureza como os grandes mestres da vida. Decidir ser feliz é permitir-se viver, ir, voltar, acertar e errar, mudar, encerrar ciclos e abraçar (re)inícios. É dizer sim ao novo com a serenidade de quem não sabe o que virá, mas acredita que algo ainda melhor será. Porque sempre é.

Artigo publicado na Revista SIM n.º 273 |  AGOSTO 2022