“Existe na família uma consciência comum e inconsciente, um profundo movimento da alma que não permite que alguém seja excluído, rejeitado ou esquecido.”
Bert Hellinger
Desde a filosofia, psicologia, neurologia à ciência cognitiva, são vários os saberes que buscam compreender os mistérios da consciência humana. Afinal o que é a consciência?
Neste âmbito partimos da premissa da consciência enquanto qualidade da mente que nos “mostra” a perceção que temos de nós mesmos, da vida e do Mundo. Ser consciente é mais do que perceber o ambiente que nos rodeia, é ser no mundo e do mundo. À medida que evoluímos temos uma maior compreensão de nós mesmos, dos outros e da vida, promovendo a expansão da consciência.
Segundo o construto de Bert Hellinger, psicoterapeuta alemão e pai de técnica fenomenológica das constelações familiares, existem 3 consciências:
- consciência pessoal;
- consciência sistémica;
- consciência espiritual ou ampla.
A primeira consciência – pessoal – é aquela que vamos adquirindo ao longo do nosso crescimento. A sua formação ocorre na nossa família, assumindo muita importância quando somos crianças, pois assegura a nossa pertença à mesma. Esta consciência funciona como um farol interno que nos inocenta ou culpa, que distingue o bem e o mal, que reconhece o pertencer ou excluir em alinhamento com os princípios e os valores de cada família. Desta forma, se fazemos algo que é aceite pela nossa família temos um sentimento de consciência leve, sentimo-nos incluídos. Mas se agimos de uma forma diferente, que não é aceite pela nossa família, surge o sentimento de intranquilidade, de consciência pesada, de não aceitação e exclusão. Esta consciência é estreita e tem um alcance limitado.
À medida que evoluímos ao longo da vida, temos contacto com alguns conflitos que estão no nosso inconsciente, os quais requerem uma visão mais ampla e distante. Como resposta a este expandir de consciência emerge o grande contributo de Bert Hellinger – a consciência sistémica.
Como nos demonstra a sua semântica, a consciência sistémica tem ligação a um sistema. Entenda-se por sistema um qualquer grupo de pessoas que regularmente se relaciona por um determinado objetivo (trabalhar, estudar, divertir…). A família é o primeiro sistema ao qual pertencemos e cada um de nós pertence à sua consciência de forma inconsciente. Esta consciência não tem sentimento, ou seja, não distingue o bem e o mal, ela está ao serviço do sistema.
Enquanto que a consciência pessoal nos liga ao sentimento de pertença, a sistémica tem um campo de visão da família de origem e do grupo como um todo, tem uma visão transgeracional e está ao serviço da totalidade, das forças e das ordens que asseguram a sobrevivência do sistema. Ao observar os relacionamentos humanos, Bert Hellinger, percebeu que existem forças invisíveis e poderosas que atuam de geração para geração nas famílias, influenciando os seus destinos/história. Essas forças invisíveis denominadas de “Ordens do Amor” constituem-se como leis inconscientes que regem os relacionamentos humanos e buscam, a qualquer custo, unir o que estava separado nos sistemas, quaisquer que sejam eles onde os indivíduos se relacionem. Esta consciência está ao serviço do Amor, a força que a movimenta é o Amor, sendo este o que traz a harmonia e cura aos sistemas.
Assim, quando no nosso caminhar de expansão de consciência nos deparamos com situações inconscientes, importa colocar sobre elas um olhar sistémico. Um olhar singular e, simultaneamente, profundo, já que nasce de cada pessoa, situação e/ou organização. Uma mesma situação é sempre olhada de formas e perspetivas diferentes, pois os seus intervenientes também são diferentes. Vêm de contextos pessoais, familiares e sociais distintos. É aqui que o olhar sistémico quer chegar. Ele busca compreender o que está para além do visível. Procura trazer à consciência aquilo que está no inconsciente, totalmente isento de expectativas ou julgamentos.
Por fim, Bert Hellinger ainda nos apresenta a terceira consciência e a mais ampla/expandida de todas, a consciência espiritual, liberta de qualquer dogma, religião, pré-conceito ou misticismo. Esta consciência remete-nos para o movimento da vida, para a nova física onde a nossa existência não se limita a este presente, olhando para cada ser humano como um ser multidimensional, fomentando a infinitude da consciência humana.
Estas consciências são construídas umas sobre as outras e complementam-se, o que as diferencia são os limites de alcance do Amor. A consciência pessoal está ao serviço da pertença, ligação a um grupo limitado e exclui outros que não pertencem a esse grupo. A consciência sistémica está além da consciência pessoal, pois ela está ao serviço da totalidade, isto é, inclui com Amor aqueles foram excluídos dentro da família, ou outros sistemas, pela consciência pessoal. A consciência sistémica quer trazer de volta os excluídos, para que possam fazer parte novamente, tendo em conta o todo e a ordem de um grupo. Por último, a consciência espiritual dedica-se igualmente a todos com benevolência e Amor, não importando qual o seu destino. Para esta consciência o Amor não conhece fronteiras, supera as diferenciações entre o melhor e o pior e entre o bom e o mau.
Artigo publicado na Revista SIM n.º 264 | NOVEMBRO 2021

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