“Quando não somos capazes de mudar uma situação,

somos desafiados a mudarmo-nos a nós próprios.”

Viktor E. Frankl

No início de novos ciclos todos fazemos planos de mudança. Na passagem para um novo ano, no aniversário, no nascimento ou falecimento de alguém querido, ou simplesmente num momento que marca o fim e/ou início de algo, é comum traçamos metas e objetivos, propondo-nos fazer diferente para que a vida possa vir a ser mais do jeito que sonhamos. Acontece que rapidamente nos desfocamos desses objetivos traçados, e voltamos aos velhos hábitos e lugares, o que nos deixa tantas vezes com o sabor amargo da frustração.

  As promessas que mais fazemos no início de um novo ciclo vão desde mudar a alimentação, fazer mais exercício físico, ter mais tempo livre, poupar dinheiro, ser mais paciente, entre tantas outras que procuram chegar mais próximo daquilo que mais queremos na vida: ser feliz.

Mas porque é tão difícil mudar hábitos?

Mudar significa motivarmo-nos para o movimento. Ou seja, o nosso cérebro e o nosso sistema nervoso devem trabalhar a nosso favor, desenvolvendo redes neurais que favoreçam a mudança de forma positiva e a impulsionem.

A verdade é que, por natureza, o ser humano é resistente à mudança pela familiaridade que desenvolve com os seus padrões de comportamento e com todas as memórias já consolidadas, pois fazem parte do que já conhece e da zona de conforto onde habitualmente se deixa ir ficando.

Neste contexto a memória é de extrema importância, quer a nossa memória mental, quer a memória que temos ao nível do corpo físico. É como se determinado programa estivesse instalado. Se por vezes basta fazer uma atualização de software, outras vezes resulta mesmo necessário desinstalar velhos programas para instalar os novos, operando-se assim uma transformação radical e profunda.

Conhecer as nossas crenças e padrões leva-nos a perceber o para quê dos nossos hábitos mais enraizados. Se, por exemplo, eu tenho em mim a crença de que só quem trabalha muito pode ser alguém na vida e gerar abundância, dificilmente poderei conseguir no início de um novo ciclo quebrar este padrão e ter mais tempo para mim, para a família ou para o lazer, só porque o tempo de fora mudou. Na vida real, sabemos que é preciso algo mais para conseguirmos mudar e atingirmos a meta desejada, sendo determinante o que fazemos de diferente nesse movimento em direção ao que queremos. Ou seja, para que o velho dê lugar ao novo, a mudança que acontece fora tem que refletir uma mudança que acontece dentro também. De outra forma, seria uma loucura, como disse Albert Einstein, “querer resultados diferentes quando fazemos tudo igual.”

Por outro lado, a nossa mente inconsciente é o reservatório das experiências vividas por nós e pelos nossos antepassados. Muito do que somos hoje e do que sonhamos para nós é fruto do que foram e sonharam os nossos ancestrais, encontrando-se aqui muitas das nossas crenças.

Quando queremos mudar um hábito, importa olhar e reconhecer de onde ele vem, como se instalou, em relação a que lealdade ele está ao serviço, que emoções me provoca? Para quê tenho este hábito enraizado em mim, e para quê quero adquirir outro que me transforme?

        Estas e outras questões são olhadas quando temos coragem de mergulhar num um processo terapêutico com foco no autoconhecimento, que traga à luz as nossas crenças mais enraizadas, mas também as feridas que estão na base de muitas das nossas crenças, a maioria delas adquiridas na infância e na criança ferida que todos carregamos.

Um processo terapêutico que nos permita chegar ao inconsciente profundo, como acontece com as Constelações Sistémicas ou a Hipnoterapia Sistémica, possibilitará a entrada no reservatório das experiências vividas por todos nós. E quando acedemos a essas experiências, abrimos portas que nos permitem libertar a carga emocional associada a determinado hábito, resinificando crenças e instalando novas sinapses que nos aproximarão cada vez mais de quem escolhemos SER.

Não existe felicidade sem travessia. Sem mudança. Toda a história precisa de um processo de transformação para ser outra história. Atreve-te a escrever a tua. Afinal, como diz o poeta, tudo o que a vida “quer da gente é coragem”!

Artigo publicado na Revista SIM n.º 278 |  janeiro 2023

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