“É uma longa estrada, que não tem atalhos nem mapas. Não tem jeito fácil nem indolor. Vamos enfrentar fantasmas, monstros, vamo-nos enfrentar. Vamos atravessar etapas difíceis e outras nem tanto. Vamos rir e também chorar, porque chorar faz parte. Ter filhos é um ato de coragem, uma missão para a vida toda.” Lua Barros

Mãe. Um amor maior que transcende fronteiras e desafia limites. Em toda a sua grandeza e simplicidade, falar de mãe é falar de uma força que nos constitui profundamente e que orienta a nossa vida em mil e um aspetos. Uma presença que molda e nutre, que guia e inspira. Na vertigem deste tempo acelerado que vivemos, é urgente parar para sentir e pensar o extraordinário papel que a mãe desempenha nas nossas vidas.

A figura materna emerge como uma força central, moldando não apenas quem somos, mas também o significado e o propósito que atribuímos às nossas experiências. A influência da mãe vai muito além do amor e dos cuidados diários, desempenhando um papel fundamental na formação do nosso projeto sentido, ou seja, daquilo que nos dá direção e significado na vida.

A mãe é o encontro primordial de todos nós. É o primeiro rosto que vemos, a primeira voz que ouvimos, o primeiro toque que sentimos. A mãe acolhe-nos no seu abraço caloroso envolvendo-nos para sempre com o seu amor incondicional, e com tudo o que emerge desse lugar onde não existem condições. Entre o abrigo e o abismo, a relação entre mãe e filho é um dos vínculos mais poderosos e complexos que existem.

Quando falamos da relação de mãe e filho, não falamos apenas da relação entre duas pessoas, mas sim de muitas. Este encontro entre mãe e filho é composto por uma imensidão de pessoas, e dele fazem parte os avós, os bisavós, e todos os demais que vieram antes, bem como todos os que compõem a teia social, cultural e histórica que atravessa esse momento. No âmago deste encontro, cruza-se muitas vezes o amor incondicional com inúmeros conflitos (internos e externos) que desafiam a lógica e a compreensão, pois o legado da mãe vai além das suas próprias realizações, sendo tecido na sua arvore genealógica que atravessa gerações. E é precisamente este legado, com os seus valores, crenças e lealdades, que tanto molda a nossa visão do mundo e influencia as escolhas que fazemos, não tão livres quanto imaginamos.

À medida que crescemos, a vida apresenta-nos as fragilidades, falhas e imperfeições da nossa mãe, confrontando a imagem idealizada que temos dela com a realidade das suas próprias dores e desafios. Esta passagem da mãe perfeita e ideal para a mãe possível e real gera conflitos que podem causar confusão e dor, na medida em que, inevitavelmente, tentamos reconciliar a admiração que sentimos por elas com as nossas próprias necessidades individuais e aspirações.

É muitas vezes neste impulso para seguir o nosso próprio caminho que nos revoltamos e distanciamos da mãe no processo de “adultecer”. Muito embora este movimento seja necessário e faz parte desta relação, pode e deve ser feito com amor, compaixão e sem julgamento, o que é possível quando tomamos consciência e aprendemos a lidar com as lealdades invisíveis que nos ligam à mãe. Este pode ser um processo desafiador e complexo, tanto quanto libertador, pois no reconhecimento dessas lealdades encontramos o espaço para desenvolver a nossa própria identidade e autonomia, e assim vivermos com mais liberdade e capazes para seguir em frente na vida.

Incorporar a mãe, integrando-a em nós tal como ela é e não como desejávamos que fosse, é o exercício de uma vida. Se é fácil? Não, não é. Mas é possível e maravilhoso, e faz-se percebendo e reconhecendo a sua humanidade, e a nossa também, na procura constante e consciente do respeito pelas ordens do amor e da ajuda. De acordo com a ordem sistémica, mãe é a grande, o filho é o pequeno. Mesmo depois de adultos esta consciência deve estar sempre presente, evitando-se, assim, a troca de papeis e a prepotência que tantas vezes sentimos como filhos ao querer mudar a nossa mãe, pensando saber o que é melhor para ela.

Através da mãe chegamos ao mundo e passamos a pertencer a uma família. Este é o presente que nunca poderemos retribuir, a maior dádiva de todas, a própria vida! Cabe-nos honrar esta vida que recebemos dos pais, vivendo-a com inteireza, plenitude e consciência.

“Mãe, Obrigada pela vida que me deste, pelo amor que me deste, pelos sacrifícios que fizeste. Prometo seguir adiante, levando o teu amor, pois tudo foi na medida do que precisava”.

Artigo publicado na Revista SIM n.º 294 |  maio 2024