Sou o Pedro (nome fictício), um rapaz de 15 anos que vive no meio de uma guerra familiar. Os meus pais estão a divorciar-se e não conseguem entender-se; as discussões acontecem a toda a hora e a situação piora todos os dias. Acho que não faz sentido vivermos assim, e gostava de saber se há alguma coisa que os possa ajudar a conversar e a terminar este inferno que é a nossa vida.
Olá Pedro,
Muitos pais têm dificuldade em perceber que a existência de um conflito conjugal não implica que exista também um conflito parental. Em muitos casos, o sofrimento que estão a sentir enquanto casal impede-os de perceber o sofrimento dos filhos.
Conversa com os teus pais. Diz-lhes como te estás a sentir e sugere-lhes pedir a ajuda de um mediador. Acredita que o desejo maior dos teus pais é que os filhos sejam felizes, por isso não cales o teu sofrimento. Se o divórcio for gerido de forma equilibrada e os vínculos parentais não forem quebrados, o que é perfeitamente possível, terás seguramente uma vida feliz, com a mãe e com o pai, embora em casas separadas.
O divórcio é, sem dúvida, um processo de reconstrução familiar no qual, muitas vezes, nenhuma das partes está preparada para a transformação que necessariamente vai acontecer na vida de todos, inclusivamente dos filhos.
Assim, é natural que ao longo de todo o processo de separação dos teus pais sintas muitas coisas dentro de ti, e que também tu precises de ajuda para atravessar este momento de tantas mudanças e assimilar todas as emoções que sentes.
É natural que inicialmente tenhas vivido uma fase de negação, seguida de uma fase de raiva (porque é que eles me fizeram isto). Podes passar também por uma fase da culpa e negociação (se eu me portar bem e não criar problemas vocês voltam a ficar juntos?).
Pode ainda surgir a fase de depressão (pela dúvida de como vai ser daqui para a frente; será que vão continuar a gostar de mim?), mas por fim virá a fase da aceitação (até é bom ter duas casas) e a fase da cura (quando percebes que continuas a ter uma família que te ama, uma mãe e um pai, que vivem em espaços separados).
Para que consigas passar por estas fases de forma harmoniosa, é importante tu e os teus pais entendam que a responsabilidade do conflito não é tua, e que é um direito de todas as crianças “não serem agredidas ou violentadas, física e verbalmente por pais, avós, parentes, ou até a sociedade”, como dita a Declaração dos Direitos da Criança.
O divórcio exige uma nova forma de olhar para a família, e a mediação pode ajudar muito na reconstrução desta nova realidade familiar. Aos olhos dos filhos, o pai e a mãe serão sempre a sua família. Se os pais souberem ocupar o seu (novo) lugar, os filhos seguramente encontrarão o seu. É sob este olhar sistémico no qual todos dão as mãos em prol do superior interesse da criança, da igualdade parental e, ainda, em prol da manutenção dos laços afetivos, que encontramos o verdadeiro equilíbrio nas relações interpessoais e familiares.
O nosso sistema reconhece a mediação familiar como um dos meios de resolução de conflitos eficaz para a resolução de um divórcio pautado pelo conflito emocional e pessoal entre as partes. Através da mediação as partes conseguem ter voz e expressar os seus medos, as suas inseguranças e as dúvidas, incluindo os filhos do divórcio, encontrando no mediador um facilitador na busca de uma solução eficaz e pacífica.
“Quando duas partes estão em conflito, é mais rápido, carrega menos traumas e, em geral, deixa mais satisfeitos os envolvidos, quando se recorre a um Mediador Familiar”, como diz Sofia Salter Cid.
Artigo publicado na Revista SIM n.º 265 | DEZEMBRO 2021
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