MARIA GORJÃO HENRIQUES ESTEVE EM BRAGA
“Hoje, não temos tempo para procurar a maturidade emocional”
O Espaço Affectum, em Braga, recebeu recentemente a fundadora do Congresso da Consciência Sistémica, Maria Gorjão Henriques, um momento que reuniu várias pessoas que querem saber mais sobre este assunto. “Acho que todos vamos aprendendo com a vida, com as experiências. E cada experiência é um embate, que provoca algo em nós e acontece à medida que a vida vai evoluindo. Penso existir alguma imaturidade emocional, decorrente da sociedade em que vivemos, muita rápida e materialista, sem espaço e tempo para refletir. As últimas gerações não estão habituadas a refletir. De certa forma, há um descartar, um deitar fora a que estão habituados no dia-a-dia, na forma como se relacionam com o mundo. O mesmo acontece com as relações: não há maturidade para pensar sobre a sua vida em família”, explica especialista.
Maria Gorjão Henriques defende que as nossas ações e a nossa personalidade resultam de uma construção que começa nas gerações passadas, que nós vamos melhorando essa construção. “Até isso se está a perder, porque hoje as famílias deixaram de se reunir. Aos domingos, nas aldeias, as famílias juntavam-se à lareira, falavam das histórias dos pais e dos tios… Há uma perda de convívio, há uma velocidade que impede que se ouçam as histórias, perde-se o pulsar do ‘coração’ da família. Eu noto isso nas minhas consultas: eu faço duas ou três perguntas sobre a família e as pessoas não sabem responder”, lamenta, prosseguindo: “As nossas referências deixaram de estar na família. Acabamos por nos identificar com grupos de pertença baseados na imagem, como acontece nas redes sociais, o parecer em vez do ser. Isto é muito grave”.
Nos últimos anos, têm aparecido vários espaços de ajuda, onde se tenta mitigar os efeitos deste afastamento da família e a volatilidade nas relações. O espaço Affectum é um deles. “É com grande orgulho que tenho assistido ao nascimento de cada vez mais espaços como este, de Norte a Sul. É importante terem este sentido de responsabilidade, porque acredito que, no futuro, todas as profissões vão ganhar esta visão sistémica, dos professores, aos médicos, aos juízes. Precisamos resgatar os valores primordiais de cada profissão, para os colocarmos ao serviço das pessoas, para construirmos uma sociedade mais justa. Queria deixar a minha força a toda a equipa da Affectum, estão a fazer um excelente trabalho”, finaliza Maria Gorjão Henriques.
A Metodologia utilizada permite evitar que casos cheguem a tribunal. Paula Viana, advogada (colabora com a Revista Sim no consultório jurídico), criou este espaço junta- mente com Patrícia Sousa e Sofia Cid e explica que “o Espaço Affectum foi pensado para ajudar pessoas a descobrirem-se a si próprias, para as ajudar a refletir, a perceber as suas prioridades e os seus medos, para tomarem consciência que todos os conflitos que acontecem fora começam dentro de si. Eu faço-o porque percebi ao longo de muitos anos na advocacia que, em 95% dos casos, os processos que me surgem no escritório com conflitos de várias naturezas: de partilhas, de família e sucessões, laborais, entre outros, refletem, acima de tudo, conflitos nas relações. O conflito está nas pessoas, nas relações que se estabelecem e os problemas são apenas o seu resultado. Há anos que encaminhava pessoas para a Sofia e outras terapeutas, para as empoderar e ajudar a perceber o que estava a causar o conflito”, explica Paula Viana. “Durante vários anos, conduzi processos de divórcio, responsabilidades parentais… processos que duram 20 anos com apensos e incidentes sucessivos, como um que terminou há uns dias. As pessoas passam a vida nisto, com crianças no meio, com conflitos que não terminam. No Affectum tentamos desbloquear situações que fizeram a família chegar a este ponto. Não é inovador, porque em vários países isto já acontece”, afirma a advogada.
Os processos que vão para mediação tradicional simplesmente não se resolvem. Por outras palavras, a lei e o sistema separatista em que se baseia o sistema judicial não resolvem conflitos pessoais. “A lei dita, o tribunal determina, mas o conflito continua mesmo depois da decisão do tribunal. Por vezes, agudiza-se, porque há uma reação a cada sentença. Isto porque os processos não são papéis, são pessoas, e os sentimentos não são sentenças. Hoje, com esta abordagem sistémica do conflito, vejo os processos a resolverem-se efetivamente. Não é magia, nem milagre. É consciência”, defende.
O Affectum não trabalha o jurídico; trabalha as pessoas e os seus conflitos nas várias dimensões. “Eu sempre tentei fazer a advocacia preventiva, ou seja, antecipar e prevenir os problemas, antes de se chegar a uma situação de conflito extremo. Evito chegar ao ponto de pedir a um juiz que decida o futuro de uma criança”, finaliza.
Artigo publicado na Revista SIM n.º 264 | NOVEMBRO 2021

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