“Sofrer é muito mais fácil do que mudar. Para ser feliz, é preciso ter coragem”.
Bert Hellinger
Para muitos o mês de setembro e o fim das férias de verão representa um reinício. É tempo de voltar às rotinas, de planear os próximos meses e refazer intenções. E para muitos, mais do que o primeiro dia de janeiro, é este o tempo de fazer balanços e de tomar novas decisões. O novo é a palavra de ordem deste momento.
Talvez por isso, também nas relações amorosas é muitas vezes um momento de especial e profundo questionamento. Como correram as férias em família? Como me senti na partilha do tempo com o outro? O que quero para mim? O que sinto nesta relação é o que sonhei sentir numa vida a dois?
Não será por acaso que em setembro aumentam os pedidos de divórcio, logo após um tempo de maior coexistência conjugal, o que, em muitos casos, é gerador de desgaste e desconforto, principalmente se não libertamos o stress acumulado e vamos para férias com certas tensões internas e questões por resolver em nós e na relação.
Tudo isto pode ser potenciado pela presença de crianças, filhos e/ou enteados, que exigem atenção, cuidado, dedicação e retiram tempo e espaço para o casal ser amorosamente casal. São dias para estar com a família e a expectativa de um ambiente alegre, divertido e solidário também pesa sobre nós.
O sucesso e a manutenção da relação dependem, em grande medida, de como se decide enfrentar os obstáculos que surgem. Todos mudamos com o tempo, com as experiências, com a vida, sendo natural que as relações necessitem de constantes ajustes e reajustes, numa simbiose de partilha que nem sempre é fácil.
Muitas vezes os casais vivem em separado há já algum tempo, noutros casos uma das partes ou ambas, quiçá, sentem-se insatisfeitas com a situação do casal, faltando tantas vezes o diálogo e conhecimento de como reforçar o vínculo do amor. Isto leva a que muitos casais partam para o divórcio sentindo ainda um profundo amor pelo outro, mas impera a sensação de “não aguento mais” ou “não quero esta vida para mim”. Isto acontece porque resulta mais fácil terminar com uma insatisfação do que transformá-la em algo que nos apaixone mas que dá trabalho. Como ensinou Bert Hellinger, “sofrer é muito mais fácil do que mudar. Para ser feliz, é preciso ter coragem”.
O apoio de um terapeuta/coach de casal, que possibilite a cada um entender-se melhor a si mesmo, reconhecendo as suas necessidades emocionais na relação com o outro, que facilite o diálogo e a expressão de si, pode ajudar a resgatar o vínculo do amor, permitindo ao casal desenvolver planos concretos ou modos de ação úteis para lidar com seus conflitos e dificuldades conjugais, antes da tomada de decisão que implique o fim da relação conjugal.
O relacionamento íntimo entre o casal cria um laço da alma, que é de certa forma indissolúvel. Mesmo existindo na sociedade mecanismos como o divórcio, no nosso coração o vínculo de uma relação permanece e age mesmo após o fim do relacionamento, principalmente quando do fruto desse amor nasceu um filho.
Assim, no meio de uma tempestade na relação, o importante é parar e tomar decisões de forma consciente, quer para seguirem juntos, que implicará transformações na relação, quer para seguirem separados. Isto porque, havendo filhos, também perante a decisão da separação o casal deverá continuar a trabalhar junto na reformulação da sua relação, uma vez que a “morte” da relação conjugal exige o surgimento de uma nova relação parental.
Artigo publicado na Revista SIM n.º 274 | setembro 2022

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