O consciente e o inconsciente reagem de modo diferente à mesma coisa. O primeiro é racional; o segundo, carregado de emoção.
Atualmente, o lado oculto da mente deixou de ser apenas um assunto do interesse dos psicanalistas e passou a ser, também, da neurociência moderna. A ciência ainda está longe de ter um catálogo completo dos processos cerebrais e desvendar os segredos do inconsciente e os limites do consciente. Os especialistas estimam que a consciência ocupa no máximo 5% do cérebro, sendo os restantes 95% o reino do inconsciente. Este reino do inconsciente ainda é muito difícil de definir e são distintos os contributos a este respeito, desde a psicanálise, psicologia até à ciência moderna.
De forma introdutória, se observarmos o conceito de inconsciente preconizado pelo psicólogo suíço, Carl Jung, este divide o inconsciente em duas camadas: o inconsciente individual e o inconsciente coletivo. O primeiro representa toda informação inconsciente que foi adquirida em algum momento da vida do indivíduo; quanto ao segundo – inconsciente coletivo – é a camada mais profunda da psique que reúne informações que foram herdadas, ao longo dos anos, e que podem ser identificadas por diversos membros da humanidade por serem comuns.
A partir deste legado, realizamos o paralelismo com os contributos do psicoterapeuta alemão, Bert Hellinger, nomeadamente, com os conceitos de inconsciente pessoal e inconsciente sistémico ou familiar. Colocando a atenção neste último, o inconsciente sistémico é aquele no qual circula informação de um determinado sistema (familiar, organizacional, social…). Ao estudar o inconsciente sistémico, Bert Hellinger percebeu que existem forças invisíveis e poderosas que atuam de geração para geração nas famílias, influenciando os seus destinos/história. Essas forças invisíveis são denominadas de “Ordens do Amor” ou de “Leis do Amor”. Estas constituem-se como leis inconscientes que regem os relacionamentos humanos e buscam a qualquer custo, unir o que estava separado nos sistemas. Ainda que não haja consciência destas leis, elas existem pois as relações humanas estão baseadas no Amor e este – o Amor – por si próprio não é suficiente é preciso saber se este flui. Para uma melhor compreensão, se considerarmos que o Amor é a água, o copo é a ordem, ou seja, é necessário que exista ordem e Amor e que atuem juntos; o Amor é bom, no entanto, se não respeita a ordem gera conflito.
Quem conduz o Amor é a ordem!
As “Ordens do Amor” ou as “Leis do Amor”, são indispensáveis aos relacionamentos harmoniosos e promovem a coexistência pacífica entre seres humanos. Mesmo que não concordemos com estas leis inconscientes – “Leis do Amor”- todos estamos sujeitos a elas. Aparentemente simples, são três as “Leis do Amor”:
- Pertencimento
- Ordem ou hierarquia
- Equilíbrio
A primeira, a lei do pertencimento, quando analisada e observada parece inquestionável, isto é, ninguém pode estar no Mundo sem pertencer. Todos pertencemos a um sistema! Quando nascemos e estamos no Mundo todos nós somos filhos, também somos netos, bisnetos (…) e todos nós somos parte integrante de um sistema. Quando alguém é excluído, o seu sistema padece, não só quem foi excluído, pois há uma alteração “ecológica” no sistema que leva à descompensação, a qual se pode refletir em várias gerações. Concluímos que ninguém pode dizer ao outro que não pertence ou, simplesmente, o excluir por não se identificar com a sua forma de ser, escolhas, afinidades, experiências, ideologias, comportamentos indesejáveis ou “reprováveis” (…). O sentimento de exclusão é aquele que traz maior sofrimento e isso traz consequências para o sistema.
A segunda lei – ordem ou hierarquia – remete-nos para a importância de respeitar a precedência no tempo de cada elemento do sistema, sendo que, ninguém é mais importante. O que efetivamente é importante é que cada elemento tome o seu lugar/posição no seu sistema. Em concreto isto reflete-se da seguinte forma: os pais têm hierarquia sobre os filhos; os avós têm hierarquia sobre os pais e os filhos (netos). Inclusive entre irmãos há hierarquia, não é o mesmo ser o primeiro, o segundo ou o terceiro filho. Cada um tem o seu lugar/posição no sistema e é nela que ganha força para estar na vida. Um outro exemplo, para clarificar esta lei, quando um casal com filhos se separa e depois voltam a ter um outro relacionamento. Quando a segunda pessoa (homem ou mulher) pretende interferir na educação dos filhos do primeiro casamento, isto não é benéfico. Nestes casos o que acontece é que o primeiro (homem ou mulher) continua a ter o papel de cuidar dos seus filhos, continua a ser o pai ou a mãe; o segundo tem prioridade, pois é o atual homem ou mulher, mas não tem precedência, chega depois.
A última lei mostra-nos a relevância do equilíbrio entre dar e receber na medida em que, as relações se baseiam na troca. Por exemplo, numa relação de casal quando há Amor ambos têm vontade de dar e estão dispostos a receber, quando esta troca ocorre gera compromisso. Pois, quem recebe fica em “dívida” com quem deu, até que dê algo em troca e o equilíbrio na relação se restabeleça. Se alguém apenas recebe e não dá em troca, acabará por perder quem somente dá, assim como, quem apenas dá acabará por perder quem apenas recebe. Para que uma relação (casal, amizade, laboral…) esteja em equilíbrio é importante que quem recebe dê um pouco mais em troca daquilo que recebeu. Desta forma, quem recebeu sente-se agradecido e além de dar de volta, dá um pouco mais do que recebeu. Este ciclo torna-se a repetir e assim se forma a cadeia crescente de troca, gerando ainda mais Amor e fortalecendo o compromisso. Resumindo, é necessário que haja respeito entre dar e receber, em que a troca flui na mesma proporção.
Em suma, as “Ordens do Amor” são leis naturais que coexistem e agem ao mesmo tempo, e a sua existência não requer o nosso consentimento prévio ou vontade, simplesmente existem e funcionam como pilares para o equilíbrio e harmonia das relações humanas.
Artigo publicado na Revista SIM n.º 265 | DEZEMBRO 2021
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