OUTONO – A ENERGIA DO METAL
“Os três meses de outono denotam assimilação e equilíbrio.
O Qi do céu torna-se tenso.
O Qi da terra fica luminoso.
Descansa cedo e levanta-te cedo, ergue-te com as galinhas.
Deixa a tua mente pacífica e tranquila, para ajustar a punição levada a cabo pelo outono.
Reúne o Qi do espírito e faz com que o Qi do outono se equilibre.
Não direciones a tua mente para o exterior e deixa o Qi dos pulmões manter-se límpido.”
Huang Di, o Imperador Amarelo
Viver respeitando as leis da natureza, reconhecendo e aceitando a mutabilidade e complementaridade de tudo o que rodeia os seres vivos, é viver em harmonia e plenitude com o todo. Porque tudo no universo, incluindo-nos, é composto por elementos que são energia vital e que permitem a existência na terra, sendo parte dela, constituindo-nos de forma física e subtil.
Segundo uma das bases filosóficas da medicina tradicional chinesa, os fenómenos do universo são o resultado do movimento e da mutação dos cinco principais elementos da natureza. São eles a madeira, o fogo, a terra, o metal e a água. Cada um dos elementos tem uma natureza especial cujas características influenciam a dinâmica de nossas vidas, e podem também ser compreendidos de acordo com as estações do ano.
Cada elemento representa também partes do corpo em função das suas características, sendo o elemento água representado pelos rins e bexiga; o elemento madeira pelo fígado e vesícula biliar; o elemento fogo pelo coração e intestino delgado; o elemento terra pelo baço, pâncreas e estômago e o elemento metal é representado pelo pulmão e intestino grosso.
Estes elementos estão também associados a sentimentos, acreditando a medicina chinesa que as cinco maiores emoções são a causa das menores, e que, quando em excesso ou falta, podem afetar o funcionamento físico, psíquico e emocional, de onde poderão resultar disfunções energéticas e patologias. Essas cinco emoções são o medo (ligado ao rim e elemento água), a alegria (ligada ao coração e elemento fogo), a tristeza (ligada ao pulmão e elemento metal), a preocupação (ligada ao baço e elemento terra) e a raiva (ligada ao fígado e elemento madeira).
Cada ser humano tem afinidade com, pelo menos, um dos elementos, o que constitui uma extraordinária e eficaz ferramenta na recuperação de desequilíbrios energéticos conhecidos por nós no ocidente como doenças.
Segundo esta filosofia oriental, no início do outono a energia da terra transforma-se em metal. É a fase do recolhimento, a que se segue o inverno, a fase de armazenamento e hibernação. É no outono que recolhemos o que nasceu na primavera e cresceu no verão.
Também na vida podemos viver de acordo com as leis da natureza e dos cinco elementos, fazendo planos na primavera, trabalhando e socializando ao máximo no Verão para depois colher os frutos no outono e, por fim, descansar no inverno.
Quem aproveitou ao máximo a energia da primavera e verão, preferindo a luz do dia, aceitando o sol e calor na pele para aquecer o corpo, fazendo circular melhor o sangue e toda a humidade e frio que se acumularam no corpo durante o inverno, e que devem ser expulsos através da transpiração no verão, vivendo de acordo com as leis da natureza, não sentirá no vazio, tristeza e cansaço no outono. Viver plenamente o verão afasta o risco de depressões, pois permitir-nos-á atravessar o outono cheios de Qi=energia, o que nos fortalece e permite viver esta fase sem constipações ou problemas respiratórios, sem alergias ou pele seca.
No outono a energia contrai-se, condensa-se, volta-se par dentro para se acumular e armazenar. É quando nos viramos para dentro de nós. O sol também vai se afastando do planeta, e a nossa energia começa a descer. Os três meses do outono são um tempo de acalmia e paz. É chegado o momento de deitar e levantar cedo, poupando a nossa energia, recolhendo-a para dentro de nós.
O outono corresponde ao elemento metal e no corpo este elemento é representado pelos pulmões/yin e intestino grosso/yang. Os pulmões, intestino grosso e a nossa epiderme representam a força do metal. O pulmão reúne o Qi do céu com o Qi da terra. E reúne assim o Qi que nos dá vitalidade. O pulmão é o filtro de todas as influências e emoções externas. Reage com sensibilidade à amplitude térmica, ao ar seco e sujo.
O pulmão governa o sistema imunitário. Se o Qi dos pulmões é fraco, poderão surgir problemas respiratórias. Se não nos defendermos do stress e das influências do exterior, enfraquecemos e, por via disso, enfraquecem as nossas defesas. Assim, fortalecendo os pulmões e o intestino grosso, fortalecemos o sistema imunitário e a nossa capacidade de defesa.
O pulmão é também o responsável pela libertação das coisas que representam um peso para nós. É o filtro emocional dos pulmões enfraquecido que explica que uma pessoa com o Qi dos pulmões fraco tenha uma maior tendência para a tristeza e melancolia. Se o Qi do pulmão é forte, temos uma respiração profunda, a nossa pele é elástica, temos força física e defesas corporal.
A personagem da pessoa metal é o alquimista, que filtra o bem e o puro da matéria grossa em busca da forma e função perfeita.
Para manter o nosso elemento metal em harmonia devemos no outono fazer exercícios respiratórios e de movimento das energias como o yoga e o Qi gong. Na alimentação o sabor tem a função de melhorar ou dispersar o Qi (energia), pelo que devemos escolher alimentos da época, dando preferência a comidas mais quentes e cozidas (sopas e caldos) que também nos ajudam a fortalecer a energia do elemento Mental.
Sentir esta dinâmica da natureza e integrá-la nos nossos dias é um convite para o entendimento da nossa própria essência, reconhecendo o poder que temos para vivermos e nos organizarmos a partir dela, conscientes de que é nesta simbiose que caminham as mais saudáveis e felizes interações humanas.
Artigo publicado na Revista SIM n.º 275 | outubro 2022
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