Ludovina Esteves, é professora de Ciências no Ensino Básico e Secundário (grupo 520 -Biologia e Geologia) na Escola Alcaides de faria em Barcelos, e a sua visão tem deixado uma marca profunda na escola e nos alunos que por ela passam.
Com um coração grande e uma paixão pela educação, Ludovina traz consigo uma abordagem singular que vai além das fórmulas e equações. Para ela, cada aluno é mais do que um rosto na sala de aula; é um ser único, repleto de potencialidades e sonhos. Essa visão humanista guia o trabalho integrado que desenvolve na escola, onde cada iniciativa que desenvolve reflete o compromisso de olhar e nutrir a singularidade de cada aluno.
Esta perspetiva tem inspirado Ludovina a liderar uma série de projetos inovadores, concentrados no autoconhecimento e na educação emocional, com vista à capacitação dos alunos para a exploração das suas emoções e para consciência plena de si mesmos.
Ludovina Esteves é também uma defensora incansável da colaboração entre professores, alunos e famílias. A sua abordagem integrada e o seu compromisso com uma educação centrada no ser humano têm dado origem a uma atmosfera de aprendizagem que vai além das fronteiras da sala de aula. Esta visão sistémica, reconhece a escola como um sistema interligado, onde o desenvolvimento de cada aluno está intrinsecamente ligado ao ambiente educativo como um todo.
AFFECTUM – Quem é a Ludovina Esteves, a mulher, a mãe e a professora de ciências que encontra na natureza a maior escola da vida?
LUDOVINA ESTEVES – Sou uma pessoa apaixonado pela vida, pelo que tenho e pelo que faço!
Considero-me uma pessoa muito simples e sempre à procura de algo que me entusiasme e que acrescente a cada dia muito encanto e emoção…que pode ser uma pequena coisa…desde de que consiga tocar o coração!
Sou pouco formal, muito espontânea mas recatada e reservada até encontrar o ambiente certo! Até encontrar o meu lugar.
Extramente prestativa e colaborativa!
AFFECTUM – Como foi o teu percurso profissional? Em que medida os fatores internos e pessoais transformaram a educadora que és?
LUDOVINA ESTEVES – Sempre quis ser professora! Esta também podia ser a frase dita pela minha mãe mas que, infelizmente, não concretizou por impedimento dos seus pais. Talvez, por lealdade a ela, eu tivesse concretizado o projeto dela. Não sei bem se o gosto pelo ensino vem como um interesse em veicular conhecimento académico, ou antes em veicular desenvolvimento pessoal.
Não perco uma oportunidade de investir no segundo J sempre que me é possível.
Sinto, desde muito cedo, esta minha profissão como uma missão. Uma missão que me move, que nunca me faz pensar em desistir, mas antes em prosseguir sempre, acrescentando a cada ano algo novo, no encontro com os meus alunos e restante comunidade. Sou uma apaixonada por me envolver e coordenar projetos escolares. Gosto mesmo muito das temáticas das minhas disciplinas, mas a verdade é que tenho de suplementar a minha vida profissional com mais do que apenas dar matérias. Aí, nos projectos que abraço, envolvo-me profundamente, e canso-me, mas realizo-me profundamente! Quer no envolvimento com os alunos, quer nos resultados obtidos, quer na adrenalina que eles me fazem produzir! Abraço projectos de desenvolvimento sustentável a projectos de desenvolvimento pessoal.
Ensinar, partilhar, apenas saber académico priva-me de contactar mais profundamente com a PESSOA que é cada aluno. E, como cada aluno é muito mais que isso, conhecer e lidar com esse “muito mais” é muito prazeroso!
Não tive sempre este olhar para, e com, os alunos. Fui durante muito tempo uma profissional do ensino, que me esmerava e exigia que os alunos dessem mais do que podiam como alunos. Investia sobretudo no seu sucesso académico. Julgava que lhes estava a fazer bem! Ultimamente, sinto-me igualmente uma profissional do ensino mas, muito menos rígida e exigente em termos académicos, e muito mais rigorosa e exigente em termos de relacionamento, comigo e com os outros!
Esta nova perspetiva tem tornado o meu lado profissional muito mais leve e prazeroso!
Muitos fatores internos e pessoais, contribuíram para este novo olhar, desde problemas de saúde até ao facto de ser mãe de alunos! Se os meus filhos mereciam os melhores professores, porque eram o meu tesouro, os filhos dos outros, e meus alunos, também são os tesouros dos seus pais e merecem que eu seja a melhor versão, possível. de professora, para eles!
AFFECTUM – Os alunos estão cada vez mais descontentes com a escola, é verdade? Fala-nos desta insatisfação e dos desafios que enfrentas hoje com estes jovens
LUDOVINA ESTEVES – Sim, a escola não corresponde ao que esta geração espera e precisa. Está mais que reconhecido que as salas de aula, quer fisicamente, quer em termos de metodologias, pouco mudaram em relação à nossa geração. Mas a evolução tecnológica, científica e social evoluíram imenso. Então, é como ter “vinho novo em odres velhos”. Assim como o vinho novo, no seu processo de fermentação, acaba rompendo os odres velhos, também as novas gerações estão a forçar romper o velho sistema com a sua insatisfação, descontentamento e irreverência. E vão consegui-lo! É um processo lento mas que acontecerá! Se eu como professora perceber isto e, em vez de me revoltar, escutá-los, praticar a empatia com eles e aceitar o rompimento dos odres velhos, estarei a acompanhar a onda e não a lutar contra ela! E é mais fácil!
AFFECTUM – E em relação à insatisfação dos professores, se olharmos com um olhar mais ampliado e responsável, o que pensas que está a ser pedido pela sociedade?
LUDOVINA ESTEVES – Que aceitem e brindem com o vinho novo! Que sejam copos robustos, e elegantes, onde esse vinho novo possa fermentar em segurança, evitando danos, quer no vinho, quer nos copos!
AFFECTUM – Qual é para ti o verdadeiro papel do professor no séc. XXI?
LUDOVINA ESTEVES –Aquele que tem um NOVO OLHAR para a escola, para os alunos e para os pais! Aquele que é capaz de fazer uma reforma interna! Aquele que é capaz de se formar de novo, para colaborar com as novas gerações, com os desafios e aprendizagens que eles nos trazem. Será sempre alguém que transfere o seu conhecimento, experiência e competência para as gerações mais novas. Mais as competências do que o conhecimento, pois este está à distância de um dispositivo eletrónico para se aceder em qualquer momento, e em qualquer lugar. Esse professor terá de ter mais valências de forma a CONETAR-SE com os seres humanos a quem ensina!
Para mim, o papel do professor será também fornecer ferramentas que facilitem o autoconhecimento de modo a que cada aluno, e cada professor, conheça as potencialidades dessa pessoa, e possa colaborar no sentido da sua evolução, contribuindo para a um bem maior!
O papel desse professor será incentivar a cooperação em detrimento da competição!
AFFECTUM – O que te inspira diariamente a ser esse professor?
LUDOVINA ESTEVES – O facto de trabalhar com o “material” mais incrível que existe: o SER HUMANO, e ser possível crescer e fazer crescer os outros, em termos de relacionamentos e resoluções de conflitos pessoais , familiares e sociais. É um privilégio trabalhar com estes “materiais”J
AFFECTUM – Sabemos que estás a desenvolver um trabalho incrível no projeto AltaMENTE na escola secundaria Alcaides de Faria, em Barcelos, algo que tu própria sonhaste e fizeste acontecer! Conta-nos tudo, e acima de tudo, o que te move?
LUDOVINA ESTEVES – Se o que me move é crescer e fazer crescer os outros em termos de relacionamentos e resoluções de conflitos pessoais, familiares e sociais, coordenar projectos nesta área alicia-me!
Sempre que agarramos projetos destes, temos feed-backs, muito positivos, dos alunos, nomeadamente onde referem ter sido a melhor coisa que lhes aconteceu, que a escola devia ser sempre assim! Isso cria em mim um movimento interno que ambiciona mais. Mais projectos que permitam aos alunos passar a ter uma relação mais prazerosa com a escola.
É isso que todos nós ambicionamos!!!
Então sonha-se, pula-se e avança-se!
AFFECTUM – Como podem os sistemas educativos contribuir para o desenvolvimento de valores e de competências nos alunos que lhes permitam responder aos desafios complexos deste século?
LUDOVINA ESTEVES – O documento, Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. homologado pelo Despacho n.º 6478/2017, 26 de julho, é um documento de referência para a organização de todo o sistema educativo e para o trabalho das escolas, contribuindo para a convergência e a articulação das decisões inerentes às várias dimensões do desenvolvimento curricular. Este documento faz referência a várias áreas de competências. As competências são combinações complexas de conhecimentos, capacidades e atitudes centrais no perfil dos alunos, à saída da escolaridade obrigatória.
Três dessas áreas são: Relacionamento interpessoal, Desenvolvimento Pessoal e Autonomia e Consciência e Domínio do Corpo.
Considero que estas 3 áreas têm sido descuradas nas escolas e vejo nelas a abertura do sistema educativo para enfrentar e resolver os desafios que as novas gerações enfrentam!
AFFECTUM – Costumas dizer que és uma professora diferente da que eras no passado. O que mudou?
LUDOVINA ESTEVES – Como referi anteriormente, um novo olhar permitiu visualizar tudo noutra perspectiva!
Antes era mais professora que pessoa. Agora sou uma pessoa que também é professora J
À frente vai o ser humano e só depois vai a profissional!
AFFECTUM – Se tivesses uma varinha de condão e pudesses mudar duas cosias No sistema educacional, o que seria?
LUDOVINA ESTEVES – Tornar a aprendizagem um encanto, algo mágico! Reduzir burocracia!
Transmitir o que sei com entusiamo, encanto, deixando de ter de policiar e fiscalizar o trabalho dos alunos, deixando de cobrar notas e deixando de ser escrava de evidências, metas ou rankings!
AFFECTUM – Que mensagem gostarias de deixar a todos os educadores?
LUDOVINA ESTEVES –
Experimentem mudar!
Rompam também os odres velhos!
Sejam também vinho novo!
Acabamos o curso há largos anos e o que aprendemos, nessa altura, nas disciplinas de pedagogia já não se adequa, já não serve!
Não sugiro largar o brio profissional mas mudar o mindset!
Fazer novas cadeiras pedagógicas, que ainda não estão nos currículos das universidades e que, por isso, temos nós de as procurar!
Temos o privilégio de estar neste planeta, e ter uma vida num período onde a evolução está a ocorrer a um ritmo alucinante.
O curso que fizemos não basta para toda a nossa vida profissional!
Se não estamos satisfeitos com o que se passa nas escolas é porque esse desconforto nos está a pedir mudança em vez de reclamação (admitindo sempre que há situações a melhorar, claro e que algumas não estão totalmente ao nosso alcance)!
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