Quem é o Fernando Freitas?
Eu sou médico com especialização em Gastro-Cirurgia motivado a ajudar os doentes a se libertarem dos seus sofrimentos e tornarem-se saudáveis.
Mas, para ser mais sincero, eu entrei neste caminho porque eu estava cercado de familiares doentes e eu mesmo desenvolvi muitas doenças desde a infância.
Eu sou filho de imigrantes paternos e maternos que vieram da Ilha da Madeira para o Brasil em busca de condições melhores de vida para a família. Eles conseguiram seus objetivos profissionais e econômicos, mas havia uma grande quantidade e variedade de doenças nos meus familiares. E eu também desenvolvi várias enfermidades desde a minha infância.
Desde criança eu carregava muitas questões sobre as causas das doenças, a cura e como elas surgiam em algumas pessoas e não em outras. Isso foi o que me motivou a entrar na Medicina.
De que forma é que a medicina o trouxe até aqui, ao terapeuta sistémico?
Durante a faculdade e, principalmente, quando fazia a residência de Gastro-Cirurgia, eu observei como o estado emocional e mental dos doentes tinha grande influência no processo do adoecimento e da cura. Doenças relativamente simples podiam complicar e até levar à morte. Por outro lado, doenças graves e aparentemente terminais, podiam desenvolver uma cura surpreendente e milagrosa. Eu passei a utilizar placebos em muitos doentes com resultados impressionantes. Comecei também a observar a influência positiva e negativa das visitas dos familiares na evolução das doenças. Foi assim que eu passei a focar mais o doente do que a doença.
Com essa percepção eu busquei a formação em Psicossomática para compreender como o universo emocional influencia o funcionamento do corpo físico. E o que descobri foi que todas as enfermidades físicas tinham como raízes os conflitos emocionais infantis não resolvidos.
Para compreender melhor os traumas infantis, eu entrei no universo da Psicoterapia Corporal Neo-Reichiana e fiz formação internacional em Análise Bioenergética, Biossíntese e Biodinâmica. Aqui eu aprendi a ler a história emocional no corpo do cliente e saber como e quanto foi escrito. Eu descobri a conexão profunda entre a criança e sua família durante sua jornada de evolução. Eu tomei consciência de como suas experiências de vida cria sua programação mental que vai interpretar e interagir com todas as situações de vida do presente e do futuro.
Eu decidi mergulhar ainda mais nos traumas infantis para descobrir como as famílias desenvolviam os relacionamentos doentios com as crianças. Foi dessa forma que entrei na abordagem sistémica. Isso me trouxe uma percepção muito mais profunda sobre os relacionamentos humanos e como os conflitos, traumas e tragédias de gerações anteriores continuam a atuar nas gerações atuais, mesmo que não tenham consciência do que aconteceu com os antepassados.
E o que é ser médico sistémico?
É ter uma compreensão multidimensional do cliente. Além dos problemas que ele carrega e tenta resolver, eu sei que que todos eles têm a função de ocultar o verdadeiro problema que está inconsciente. Por isso é que os clientes passam por muitos profissionais e gastam muito tempo, dinheiro e qualidade de vida ao podar os galhos da árvore, ao invés de ir ao tronco e as raízes. Eu gosto muito da mensagem que existe em todos os extintores de incêndio – Jogue o jato na base do fogo e não nas chamas.
Ao atender uma pessoa, eu analiso várias dinâmicas sistêmicas. Primeiro eu verifico o tipo de queixas e que tipo de disfunções sistémicas estão a ocorrer conforme a atuação saudável ou não das leis Sistémicas – Pertencimento, Equilíbrio, Hierarquia, Tempo e Espaço. Com isso eu analiso se suas funções estão em ordem ou não. Por exemplo, qual é o grau de importância, a prioridade e a forma de interação entre ela e cinco funções básicas: família de origem, cônjuge, filhos, profissão e com ela mesma.
Ao atender um cliente eu também estou a trabalhar com seu sistema familiar do passado, do presente e do futuro. Não é apenas um indivíduo isolado.
As constelações familiares ainda carecem de validação científica, dizem os mais céticos. O que pensa sobre isto?
As constelações familiares não têm comprovação científica como nenhuma outra abordagem psicoterápica tem e nem terá. Por outro lado, também não há e nunca haverá comprovação científica que ela não funciona.
A psicanálise, a psicologia e ouso dizer que até a medicina também não tem. Todos os estudos científicos na medicina precisam ter estudos duplo cego. Metade dos doentes pesquisados tomam o medicamento a ser estudado e a outra metade tomam placebo. Para saber se a substância estudada tem efeito, é necessário que os resultados sejam melhores que os do grupo do placebo. Agora eu trago mais uma informação – não tem estudos científicos sobre a atuação dos placebos. Tudo é analisado como probabilidades e nunca com certezas.
Para que haja uma comprovação científica, é necessário que todos os elementos a serem pesquisados sejam normatizados e isso nunca ocorrerá em nenhum procedimento que envolva a subjetividade do ser humano. Por exemplo, o ciente nunca será o mesmo, o profissional também não e a relação entre eles muda até mesmo dentro do atendimento. Como se pode analisar qualquer abordagem de interação humana cientificamente? Fazer isso com máquinas é possível, mas o ser humano não é assim.
Além disso, a constelação sistémica é uma técnica de trabalho e não uma abordagem. Ela é como um bisturi. Se estiver nas mãos de um bom cirurgião, salva vidas. Mas, nas mãos de profissionais com formações e treinamentos inadequados, pode causar danos. Infelizmente há muitos “fazedores de constelação” que estão a fazer absurdos nos atendimentos. Como ainda não há uma regulamentação na preparação desses profissionais, eu estou a formular um Código de Ética para o trabalho das Constelações para utilizar com os meus alunos e profissionais formados pelo meu Instituto. Eu estou em contato com os principais formadores para que possamos trabalhar neste Código que trará uma estrutura à aplicação da técnica.
Qual o risco de não haver regulamentação desta atividade?
O grande risco é o aparecimento de muitos cursos rápidos, baratos e com promessas falsas de resultados. O grande objetivo deles é capturar alunos e ganhar dinheiro, portanto, a qualidade e o treinamento teórico e prático são deficientes.
Como este tipo de trabalho é muito recente, ainda vai demorar para se estabelecer uma regulamentação. Precisaria ter uma normatização dos temas a serem estudados, professores experientes, metodologia de ensino, tempo mínimo para atividades teóricas e práticas, treinamento intensivo dos alunos e supervisão. Os cursos mais sérios construíram esta estrutura, mas, a maioria dos treinamentos está muito aquém do que é necessário.
Essa dinâmica também é presente em várias outras atividades profissionais como o Coaching, Consultorias, Psicoterapias entre muitas outras. Às vezes, quando se fala de Constelação Sistémica parece que é algo isolado, mas não é. Tudo que é novo passa por esses questionamentos e dificuldades naturais. Com o tempo, o processo ganha forma e estrutura.
Mesmo o que já está regulamentado também tem muitos problemas. Bruce Lipton trouxe que a maior causa de mortalidade nos EUA é a iatrogenia, isto é, as doenças causadas pelos médicos. Mas isso não quer dizer que a Medicina é inadequada e precisa ser banida. Ela precisa ser melhorada a cada passo.
Quem pode e deve ser facilitador de Constelações Familiares?
Qualquer profissional que trabalhe com relacionamento humano pode se tornar um facilitador de Constelações. Ela pode ser utilizada em várias áreas: Família, Organizações, Profissões, Educação, Justiça, Medicina, Psicoterapia, Coaching, Consultorias.
Para se tornar um bom profissional é necessário ter três pilares. O primeiro é uma formação teórica e prática séria e com metodologia. O segundo é o trabalho pessoal do profissional, pois ele só conseguirá levar seu cliente até onde o nível onde o constelador já chegou na sua consciência de vida. O terceiro é supervisão com profissionais mais experientes que vai ajudá-lo a perceber informações e dinâmicas mais profundas do cliente dele. Além disso, o supervisor vai analisar e orientar o profissional no que ele precisa trabalhar e evoluir na sua atividade.
Há esperança na humanidade?
Eu tenho esperança de que a humanidade consiga sair desse mind-set doentio que causa tantos sofrimentos, conflitos e doenças. Não será fácil, mas é possível. À medida que cada ser humano amplie sua Consciência sobre quem ele é, seu papel na vida e tenha seus propósitos de vida, os relacionamentos se tornarão cada vez mais saudável.
A mudança básica para mim é sair do Amor ao Poder para o Poder do Amor. Conforme as pessoas conheçam e compreendam as Leis Sistémicas e as aplique em sua vida. Assim, as funções entrarão em ordem e deixaremos de olhar apenas para o próprio umbigo e aprenderemos a interagir e construir relações mais saudáveis. Cada um responsável pela sua própria vida, sua felicidade e seu bem-estar. Precisamos para de cultivar as relações de dependência e codependência e seguirmos todos em direção à vida com Segurança dentro e pronto para a Aventura fora.
Qual o estado atual de saúde do homem, das sociedades?
Infelizmente está muito caótico. Basta ler as notícias de qualquer jornal ou assistir o noticiário da televisão. O que tem de positivo e negativo nelas? O ser humano é o animal que desenvolve mais doenças. A frequência, a intensidade e a cronicidade das enfermidades estão aumentando progressivamente.
O ser humano é comparado ao cancro do planeta. Ele cresce, invade e destrói a fauna e a flora. Ele desrespeita a Natureza e acredita que ela existe para dar tudo o que ele quer. Retira intensamente vários recursos da Terra e deixa uma quantidade impressionante de lixo que não dá mais para esconder. O meio ambiente está a ser destruído. A atmosfera e os rios estão contaminados e espalham essa poluição para todos os cantos do planeta. As epidemias aparecem a todo momento, pois os vírus e bactérias também precisam sobreviver. Se não há mais outros animais que eles podem habitar, o que podem fazer é descobrir como viver nos seres humanos.
Tanto o ser humano quanto as sociedades precisam acordar para a Realidade e aprender a conviver uns com os outros e respeitar a Natureza. Isso vai ocorrer pelo amor ou pela dor. Se não conseguirmos fazer isso, o futuro da nossa espécie está em risco
De Brasil para Portugal, uma mudança impulsionada pelo coração?
Eu já quase me mudei para Portugal por quatro vezes. Agora eu concretizei. Desde a primeira vez que fui à Madeira com meus pais, eu senti algo muito forte neste país. Não há uma explicação racional, é algo interno que me atraiu para cá. Eu sinto que tenho algo a fazer aqui desde aquele momento.
Eu construí uma carreira e uma Instituição de sucesso. Hoje nós temos alunos em 46 países. A estrutura e a metodologia que criei para a formação de profissionais ajudou milhares de pessoas em todas as áreas humanas.
Chegou o momento de internacionalizar o Instituto. Havia a possibilidade de ir para os EUA e eu fiquei por lá alguns meses para analisar como seria esse processo. Ao mesmo tempo eu também vim para Portugal com o mesmo objetivo. Em novembro eu estava aqui e a Carla, minha esposa, olhou para mim enquanto dirigia de Lisboa para o Porto e me perguntou: – Fernando, o que você está sentindo agora? Você está diferente e com uma expressão tão boa. O que eu respondi foi – “Eu me sinto em casa”. Este momento definiu meu destino. O meu coração me trouxe para cá.
Qual o caminho que sente que vai fazer em Portugal?
Eu já registrei oficialmente o IASC – International Academy of Systemic Consciousness. Eu vou trazer vários cursos, treinamentos e grupos de constelação e de supervisão que já faço no Brasil. Daqui será mais fácil me conectar com outros países e expandir o meu trabalho terapêutico e de treinamento de profissionais. O IBRACS – Instituto Brasileiro de Consciência Sistêmica continua no Brasil. Agora estamos em outro degrau de evolução para ampliar a Consciência Sistêmica. Já é um enorme prazer viver aqui e sentir a energia do campo se expandir para novos projetos.
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