“Todo o terapeuta o é porque a sua consciência familiar necessita que algo seja feito. Em cada terapia, sabendo ou não, o constelador cura-se ao mesmo tempo que o cliente”. Brigitte Champetier

Os terapeutas, tal como muitos outros profissionais que lidam com seres humanos em situações de fragilidade, tem uma especial responsabilidade em adquirir recursos e competências que lhe permitam acompanhar e ajudar efetivamente os seus clientes.

Para além do trabalho interior que se revela essencial, a necessidade de atualização constante é uma exigência em crescendo neste mundo em constante mudança, todo em prol de uma visão sistémica que olha o indivíduo em todos os contextos da sua vida.

Quanto mais trabalhamos ao serviço da grande alma, maior o compromisso na visão global e holística, abandonando crenças e dependências emocionais, para acolher a visão do outro. Bert Hellinger, num dos seus últimos artigos escreveu que “o resultado de uma constelação depende do constelador. Somente se ele tiver integrado na sua vida as leis da vida e as ordens do amor é que pode conseguir facilitar uma constelação”.

O olhar sistémico de um terapeuta é um olhar ampliado que vai mais além na observação do individuo, reconhecendo que, por traz dele, estão 2 pais, 4 avós, 8 bisavós, 16 trisavós, 64 pentavós e por aí fora. Há todo um ADN familiar e cultural que está presente no que aquele indivíduo é hoje, exigindo que o olhar do terapeuta seja um olhar empático e, ao mesmo tempo, domine a arte da ajuda que, “como toda a arte, requer uma destreza que se pode aprender e exercitar.”

Para tudo isto, no trabalho do terapeuta importa atender, para além das leis sistémicas ou ordens do amor (do pertencimento, da hierarquia e do equilíbrio entre o dar e receber), às ordens da ajuda que Bert Hellinger tão visionariamente preconizou. Porque a arte da ajuda aprende-se, integra-se e exercita-se, servindo tanto para quem ajuda como para quem é ajudado.

As ORDENS DA AJUDA

– Só posso dar o que tenho e receber o que preciso

Aqui reside o verdadeiro equilíbrio entre o que damos e recebemos, que acontece dentro dos limites daquilo que temos para oferecer ao outro e das suas reais necessidades. Quando vamos além daquilo que temos, ou quando damos mais do que o outro precisa, cria-se uma desordem na relação entre o terapeuta e o cliente, de onde resultará necessariamente fragilidade, insatisfação e desconforto de uma das partes. O terapeuta nunca deve fazer pelo cliente o que ele pode (e deve) fazer por si mesmo, tal como acontece na relação dos pais com os filhos.

– Assentimento – tomar a realidade tal como ela é

O cliente chega com uma história, que sempre vai além daquilo que ele conta. Importa perceber o que está por detrás dessa história, o que existe para além do aparente, compreendendo o verdadeiro contexto da sua situação. Desta compreensão resultarão claros os limites do terapeuta, de modo a que a sua intervenção, humildemente, não os ultrapasse.

– Tratar o outro como adulto

A relação do terapeuta/cliente é de adulto para adulto. Trata-se da maturidade necessária, quer da parte do terapeuta, quer do cliente. Releva assumir o lugar de adulto para que o outro o assuma também, assumindo a responsabilidade que toca a cada um. Desta forma, o cliente sentir-se-á capaz do que for necessário para superar as suas dificuldades, acreditando em todo o seu potencial para conseguir resolver os desafios que a vida lhe oferece e conquistar a transformação que se impõe. É a chamada maturidade consciente.

– Ouvir o cliente como parte de um sistema

O terapeuta deve ouvir a questão do cliente, não como um ser humano isolado, mas sim verdadeiramente integrado nos seus relacionamentos, atuais e ancestrais, respeitando todo o seu sistema. Este olhar que integra todos, especialmente os  que mais influenciam a vida do cliente que, na maior parte das vezes, são os excluídos da história narrada. Talvez aqui esteja a origem do sintoma e a grande possibilidade da solução.

– a prática do não julgamento

Não julgar, respeitando a história de cada pessoa, aceitando-as como elas são, percebendo os caminhos que fizeram e que as trouxeram aqui. Isto equivale a dar espaço no coração para o assentimento de tudo o que compõe a história do cliente.

Aplicando no seu trabalho as leis sistémicas e as ordens da ajuda, o terapeuta integra-se neste movimento sistémico onde as pessoas se (re)conhecem na potência e sensibilidade de quem escolhe assumir a responsabilidade pela sua vida, e, em nome de uma maturidade consciente, travar as suas lutas por e com amor. 

Artigo publicado na Revista Sim n.º 281 | abril 2023

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